Empresário que defende estado mínimo recebeu benefícios estatais

O presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, é um apoiador fervoroso da ideia de livre mercado. Na última quarta, lançou um manifesto liberal, no qual afirma que “chegou o momento da independência de cada um de nós das garras governamentais”. Na sua cruzada contra a “gastança” de verbas públicas, o que ele não diz é que sua empresa há anos recebe financiamento público e insenções fiscais, que ele agora condena.

Flávio Rocha

“É preciso tirar o Estado das costas da sociedade, do cidadão, dos empreendedores, que estão sufocados e não aguentam mais seu peso”, escreveu o empresário em sua carta. Nela, Rocha também critica a concessão de créditos subsidiados e o que chama de “intermediação nefasta da burocracia estatal”.

Apesar do discurso, entre 2009 e 2016, as lojas Riachuelo e a Guararapes Confecções, controladora da rede varejista presidida por Rocha, receberam financiamentos de cerca de R$ 1,4 bilhão junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ou seja, os negócios privados do empresário há anos se beneficiam das baixas taxas de juros praticadas pelo banco público.

Curiosamente, esse tipo de financiamento também foi alvo de seus ataques: “A apropriação privada dos ganhos provenientes de empréstimos de pai para filho dos bancos públicos infelizmente comprou corações e mentes nos últimos anos”, declarou.

De acordo com o site do BNDES, as Lojas Riachuelo S/A firmaram, por exemplo, seis contratos de operações diretas e indiretas não automáticas com o banco público, que totalizam financiamentos de cerca de R$ 1,27 bilhão. As verbas serviram para reforma e modernização de lojas, abertura de novas unidades, ampliação da frota de caminhões, implantação de um novo call center, realização de projeto social, expansão de unidades industriais e centros de distribuição.

Já a Guararapes Confecções realizou operações de crédito definidas em quatro contratos com o BNDES, que somam algo em torno de R$ 60 milhões. Os recursos foram utilizados para expansão de fábrica, implantação de nova unidade de produção, construção de galpão industrial, entre outros.

De acordo com a agência Saiba Mais, do Rio Grande do Norte, a Guararapes tem utilizado, desde a década de 1950, os benefícios da política de isenção fiscal deste Estado. “Somente nos últimos 10 anos, de 2007 a 2017, a empresa acumulou R$ 542.578.180,41 em isenção de ICMS, o equivalente a até 75% do imposto que deveria ser recolhido. A isenção se deve à inclusão da Guararapes no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial do Rio Grande do Norte (Proadi), que existe desde 1985, sempre com a participação do grupo Guararapes Confecções”, diz a reportagem.

É como bem disse a economista Tânia Bacelar, em uma entrevista recente: “O discurso das nossas elites é muito interessante. Todos são liberais, mas todos dependem do Estado”. No livre mercado de Rocha, o Estado só deve ser mínimo para o outro – no caso, o trabalhador.