Tamara Naiz: 2017, os pós-graduados e a ciência brasileira

Este ano de 2017 foi, incrivelmente, ainda mais conturbado para a sociedade brasileira que o anterior. A nossa ciência sentiu como nunca os efeitos da crise política e econômica, com o pior patamar de investimento público das últimas décadas. Redução de recursos – crescente desde 2015 –, desconfiguração do MCTI, fechamento de museus e casas de ciência Brasil afora, ameaça e perda de bolsas. Não bastasse tudo isso em 2016, neste ano o cenário foi ainda pior.

Por Tamara Naiz*

Tamara Naiz, presidenta da ANPG - .

Em março o governo federal anunciou um contingenciamento de 44% do orçamento previsto para o MCTIC, o mais fortemente impactado. O corte linear na área fez com que o CNPq perdesse 572 milhões de reais de um total de 1,3 bi. Imediatamente a ANPG denunciou. De lá para cá, foi uma incansável luta para garantir a cada mês o pagamento das bolsas e busca por recomposição do orçamento do MCTIC. Fizemos denúncia na imprensa, corrida ao parlamento na busca de apoios, debates em universidades por todo o país, manifestações e marchas em vários estados. Iniciativas por todos os lados.

Um momento importante na somatória dos esforços que fazia toda a comunidade científica foi a Reunião Anual da SBPC, realizada em julho na UFMG. Foi ali que juntamos as iniciativas de modo mais organizado. Além do 5º Salão Nacional de Divulgação Científica, com o tema “Impactos da ciência na sociedade”, a ANPG protagonizou dois momentos

determinantes para o posicionamento da comunidade cientifica: a primeira foi o lançamento da campanha Conhecimento Sem Cortes , que inaugurou o “tesourômetro" para calcular o corte progressivo de orçamento do sistema nacional de CTI desde 2015 e uma petição eletrônica que recolheu mais de 82 mil assinaturas.

A segunda foi o lançamento do Manifesto de Cientistas e Pesquisadores por Diretas, que denunciou o desmonte da ciência e da democracia brasileira, as antirreformas e conclamou a necessidade da retomada do desenvolvimento e defesa das eleições diretas para presidência, marcando um posicionamento contundente da comunidade cientifica Fruto dessas duas iniciativas, a Assembleia de Sócios da SBPC aprovou duas importantes moções: “REVOGA EC 95” e “DIRETAS JÁ!”.

No final de julho mais um corte no orçamento. Mais denúncias públicas e manifestações – pressão fundamental para que o pagamento das bolsas CNPq não tenha sido suspenso. Mesmo após a aprovação de um déficit primário de mais de 159 bilhões do orçamento federal, chegamos a novembro com a liberação de apenas 20% do recurso necessário para fechar o ano do MCTIC. Mas, mesmo assim, nossa luta garantiu o pagamento das bolsas de 2017.

A previsão orçamentária aprovada para 2018 é ainda pior. Para o MCTIC o orçamento previsto é de 2,78 bilhões, metade do de 2017 e apenas 25% do que foi investido em 2014. É um corte drástico, sobre o qual ainda incidirão os contingenciamentos. Com este orçamento não temos garantia de pagamento das bolsas CNPq, nem de projetos e editais. É a destruição da ciência brasileira.

Em 2018 as palavras de ordem são luta e resistência contra quaisquer retrocessos, superação da crise e construção de um novo ciclo de perspectivas para nossa gente, com a retomada do desenvolvimento sustentado e inclusivo, da democracia e da soberania nacional. Um novo projeto de desenvolvimento para o pais, onde educação, ciência e inclusão estejam no centro! Unamos o povo ao redor de projetos e boas ideias, em favor de uma sociedade mais fraterna.