Brasil está sob o domínio de ruralistas, evangélicos e pró-armas

O jornal Le Monde desta terça-feira (19) traz uma triste constatação sobre o Brasil. Segundo a correspondente do diário em São Paulo, Claire Gatinois, o país foi dominado pelos "BBBs". A sigla faz referência à "boi", em relação à bancada ruralista, à "bíblia", em relação aos evangélicos e "bala", os partidários do porte de armas. Segundo a repórter, os três Bs influenciam cada vez mais o governo e sociedade brasileira.

Recesso só será suspenso se STF determinar, diz Renan - Agência Senado

"Representados por 347 deputados dos 513 do Congresso, esses três grupos de pressão constituem, desde as eleições de 2014, uma força inevitável. Segundo seus opositores, eles teriam até mesmo pego a Câmara dos Deputados como refém, impondo leis e emendas com intenções reacionárias", diz a matéria do Le Monde.

Para o diário, entre os "BBBs", os ruralistas são os mais poderosos, com 239 deputados no governo. A bancada evangélica conta com 87 representantes e os defensores do porte de armas, 21. "Cada um destes lobbys trabalha em função de seus interesses. Os militantes do agronegócio trabalham para ganhar espaço de cultivo nas reservas naturais protegidas e indígenas; os evangélicos defendem a família tradicional – são contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo -; e os pró-armas tentam, desesperadamente, voltar atrás na lei do desarmamento que, em 2003, proibiu o porte de armas aos simples cidadãos", reitera o diário.

Para Le Monde, esses deputados, eleitos pelo povo, "revelam uma faceta ultraconservadora da sociedade, uma realidade escondida durante muito tempo pela prosperidade econômica e os avanços sociais do início dos anos 2000". O jornal sublinha que "a crise de 2015, os escândalos de corrupção, o desemprego e o aumento da violência ressuscitaram os velhos demônios".

Le Monde também afirma que a ex-presidente Dilma Rousseff estava consciente da existência dos BBBs, mas desdenhou o poder do grupo durante seus governos. Já o atual presidente Michel Temer compreendeu rapidamente como lidar com o grupo. Trocando favores com os "BBBs" e cedendo a diversas exigências deles, o chefe de Estado é frequentemente blindado por eles. Graças à influência dos três Bs nas decisões do Congresso, Temer se livrou duas vezes da possibilidade de ser afastado de seu cargo e enfrentar na Justiça um processo por graves denúncias de corrupção, destaca Le Monde.

Todos-poderosos, os "BBBs" impedem também o avanço de qualquer pauta progressista, tornado o ar "cada vez mais irrespirável para os militantes LGBT, as feministas ou defensores dos direitos humanos". Em entrevista ao jornal, o filósofo brasileiro Vladimir Safatle lembra que o grupo sempre existiu no país, mas, agora, eles acreditam que podem agir unicamente em prol de seus interesses, sem negociar com o resto da sociedade, e sem limites. Mais preocupante: os BBBs ainda devem permanecer durante muito tempo no poder, conclui Le Monde.