Cristina Kirchner responde acusações e recebe apoio de Lula

A ex-presidenta e senadora Cristina Kirchner respondeu, em conferência para jornalistas, as acusações do juiz Claudio Bonadio, que classificou o suposto crime da ex-presidenta de encobrir terroristas como “traição à pátria”; "querem calar a oposição no Parlamento. O governo está por trás disto com os seus operadores judiciais", declara

Por Alessandra Monterastelli *

Cristina Kirchner

“É uma causa inventada sobre fatos que nunca existiram”, declarou aos jornalistas a senadora.

“Bonadio sustenta que os dois atentados terroristas que ocorreram, um contra a embaixada e outro da AMIA, são atos de guerra, e não atentados. Essa foi a única maneira que ele encontrou, em seu mundo jurídico bastante particular, para poder declarar o crime de ‘traição à pátria’”, disse Kirchner, reiterando que “a sentença de traição à pátria só pode ser alegada caso o país se encontre em guerra; dessa forma, ele assimilou os dois atentados como atos de guerra”.

A senadora denunciou ainda que Macri é o “maestro da orquestra” por trás de tudo isso, já que os holofotes se viram sobre essa acusação no momento em que “o Congresso está debatendo uma reforma perversa que possui ampla reprovação por grande parte da população”, disse, referindo-se às reformas trabalhista e da previdência propostas pelo governo.

“Não querem nossa voz nesse Senado, porém não vamos nos calar, assustar e nem deixar de provocar” expressou ainda Kirchner sob aplausos, segundo a agência de notícias Télam.

Por fim, a ex-presidenta pediu aos “companheiros e companheiras” jornalistas que não necessariamente escrevam em sua defesa, mas que ajam em defesa dos diretos dos trabalhadores e trabalhadoras, “que está acima de tudo isso”.

O ex-presidente Lula qualificou como preocupante o que está acontecendo contra Cristina Kirchner, que designou como uma “caça judicial e midiática”. Lula vive algo parecido no Brasil, com os processos julgados por Moro sobre a Lava-jato e a perseguição por parte da grande mídia hegemônica.

“Expresso minha solidariedade à presidenta Cristina Kirchner e aos seus colaboradores que tanto fizeram pelo povo argentino e pela integração sul-americana”, disse Lula em sua conta no Twitter.

A acusação

Kirchner negou à justiça que tenha encoberto os iranianos suspeitos de atentar contra uma associação judaica de Buenos Aires em 1994 e acusou o governo de Mauricio Macri de usar o Poder Judiciário para perseguir opositores.

A acusação contra a ex-presidenta foi feita pelo procurador Alberto Nisman em janeiro de 2015, dias antes de ser encontrado morto.

Segundo relata o G1, o procurador afirmava que um acordo assinado entre Argentina e Irã em 2013 para investigar conjuntamente o atentado, que deixou 85 mortos e segue sem culpados, buscava realmente encobrir os supostos suspeitos do ataque, entre eles o ex-presidente iraniano Ali Akbar Hashemi Rafsanjani e o ex-chanceler Ali Akbar Velayati, para favorecer a relação comercial bilateral.

"Não tivemos nenhum outro propósito ao assinar o Memorando de Entendimento a não ser conseguir um avanço mediante a tomada de declarações dos acusados iranianos, a única forma para a investigação em curso sair do ponto morto em que se encontra", expressou a ex-presidente Kirchner em texto apresentado ao juiz para a sua defesa na quinta-feira (7).

A senadora ressaltou que o acordo foi então aprovado pelo Congresso, que tem essa capacidade como Poder Legislativo, e defendeu que a Constituição concede faculdades ao Poder Executivo para dirigir as Relações Exteriores, ainda segundo informações do G1.

O acordo bilateral contemplava criar uma comissão de especialistas para revisar a causa do atentado e o deslocamento do juiz argentino encarregado do caso a Teerã para interrogar os suspeitos, já que na Argentina não é aprovado o julgamento à revelia.

Kirchner questionou o juiz Bonadio por um possível envolvimento com o encobrimento do atentado à AMIA, corroborando com o governo de Menem e por ter paralisado o caso durante anos. A senadora ainda argumenta que foi denunciada por Nisman quando quis separar o procurador da investigação.