Uma história de amor contra um Estado racista

Faz 50 anos que a Suprema Corte norte-americana deu vitória aos Loving, em 1967. O casal inter-racial estava sendo processado pelo Estado da Virginia, sob acusação de estarem violando a uma lei conhecida como “Ato da Integridade Racial”, que proibia o casamento entre pessoas de diferentes raças. Richard e Mildred Loving venceram, construindo uma história de luta e amor

Por Alessandra Monterastelli* 

casal Loving

A proibição do casamento entre pessoas de diferentes etnias ou religiões não foi exclusividade do nazismo. No estado norte-americano da Virginia, houve uma lei que vigorou até 1967 uma lei chamada “Ato da Integridade Racial”, que proibia o casamento entre pessoas de raças diferentes.

Richard Loving era norte-americano, de descendência europeia e pele clara. Mildred Jeter era norte-americana, de descendência africana e pele negra. Conheceram-se quando ele tinha 17 anos e ela 11. Sua amizade tornou-se um romance com o passar do tempo, e Mildred acabou grávida aos 18 anos. Devido a lei de seu Estado, ambos foram até Washington para se casar, em 1958, posteriormente retornado à Virginia.

Pouco após a união legal, foram acordados às duas da manhã pela polícia, que recebera “denúncias anônimas” e sentenciados a prisão por violar a lei estadual sobre casamentos mistos, “conspirando contra a paz e dignidade da comunidade”. Foram condenados a um ano de prisão em 1959, sentença suspensa com a condição de deixarem o estado. Banidos, mudaram-se para Washington, mas tiveram dificuldade para se adaptar à vida na capital e, mais tarde, abriram um processo contra o governo da Virgínia.

Obrigados a deixar sua casa e seus empregos, na defesa de uma suposta “dignidade” baseada em preceitos racistas. Com o veredicto da Suprema Corte em 1967, que pôs fim ao caso dos Loving, o casamento inter-racial foi legalizado em todo o país.

Os estados sulistas dos Estados Unidos – e todo o território do país- carregam marcas do racismo e da violência contra os negros. Esse ano comemoramos o fim de uma lei enraizada na opressão e na injustiça (entre muitas outras cometidas); o mesmo ano em que, no mês de agosto, aconteceu a marcha supremacista branca e com ideais nazistas em Charlottesville, na Virginia. Curiosamente, no mesmo Estado.

Torna-se importante lembrar e refletir sobre essa história de luta e amor.