Mais de 70% das jornalistas já foram assediadas no trabalho

De acordo com pesquisa inédita realizada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e pela plataforma Gênero e Número sobre assédio e discriminação de gênero nas redações, 70,4% das mulheres entrevistadas admitiram já terem recebido cantadas que as deixaram desconfortáveis no exercício da profissão e 86,4% disseram já ter passado por pelo menos uma situação de discriminação de gênero no trabalho.

mulheres na redação - .

“Quando o colega homem fala, parece que já tem mais garantia. Quando a gente fala tem que ter todas as provas na mesa para que aquilo seja levado em conta”.

“Cheguei para cobrir o Judiciário, que assim como a política, é machista e tem uma cultura de ‘mulher gostosa’, a estagiária gostosa, a novinha”.

“Por estar há três anos no jornal e fazendo uma pauta bem pesada, achei que era um bom momento para pedir um aumento. Apenas ouvi: ‘Você veio me pedir um aumento com esse barrigão?”

Esses são apenas três dos relatos de jornalistas sobre os assédios que sofreram durante sua carreira. Apesar de serem maioria nas redações (64,2%), as mulheres ainda sofrem com preconceito no ambiente de trabalho. Isso é o que mostra o estudo Status das mulheres no jornalismo brasileiro.

A pesquisa investigou os desafios enfrentados pelas mulheres no exercício da profissão jornalística e mostrou que 73% das entrevistadas já ouviram comentários ou piadas de natureza sexual sobre mulheres. Além disso, um número expressivo de jornalistas relatou que seus êxitos profissionais são frequentemente interpretados como resultado de barganha sexual com seus superiores hierárquicos.

Entre as 477 jornalistas entrevistadas, 86,4% disseram já ter passado por pelo menos uma situação de discriminação de gênero no trabalho – apenas 13,6% não assinalaram nenhuma experiência de discriminação. Dentre as situações listadas, aquela que foi apontada como mais comum foi a distribuição de tarefas no ambiente de trabalho conforme o gênero dos jornalistas, seguida por obtenção de promoção no emprego, oportunidade de trabalho, obtenção de aumento e, por fim, determinação de escalas de horário.

As jornalistas também relataram sensações de incômodo, infelicidade no trabalho e estresse vivenciados no ambiente profissional como resultado do assédio de chefes e colegas, as jornalistas afirmam que a situação impacta diretamente a sua atividade – em especial quando provém das fontes. Além de propostas de sexo, toques sem consentimento, perseguição, piadas de cunho sexual e comentários sobre o corpo são algumas das modalidades de assédio relatadas.
Ao mesmo tempo, 83,6% das jornalistas relataram já ter sofrido algum tipo de violência psicológica no trabalho. As formas mais comuns são abuso de poder ou autoridade, intimidação verbal, escrita ou física e insultos verbais.

As mulheres são também expostas a situações de violência física no trabalho: 17,3% alegaram já ter sofrido algum tipo de agressão física no exercício da profissão. Na metade dos casos (52,8%) a agressão veio de um(a) desconhecido(a), mas foram identificados como agressores também superiores hierárquicos (18%), colegas de trabalho (15%) e fontes (14%). Em 90,3% dos casos o gênero do agressor era masculino.

Ainda no levantamento, 92,3% das jornalistas informaram que já ouviram piadas machistas em seu ambiente de trabalho.

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