País tem 904 mil na fila por cirurgia eletiva no SUS e deve piorar

Segundo levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) a lista de espera para realização de uma cirurgia eletiva (não urgente) pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pode passar de 10 anos. Junta-se a demora, o número de pessoas na fila, que atinge 904 mil pacientes. Esse quadro deve se agravar ainda mais com o teto dos gastos aprovado durante o governo de Michel Temer.

Por Verônica Lugarini*

SUS

Os dados apurados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) mostram a crise que atinge há anos o sistema de saúde pública no Brasil. Hoje há pelo menos 904 mil pessoas esperando por uma cirurgia eletiva no SUS e a espera de alguns pacientes chega a 10 anos.

Uma pesquisa liderada pelo médico Ricardo Cohen, membro da Câmara Técnica sobre Cirurgia Bariátrica e Síndrome Metabólica e coordenador do Centro de Obesidade e Diabete do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, avaliou as consequências da demora no acesso ao procedimento: a cada mil pacientes que aguardam a cirurgia, cinco morrem por ano de espera. Os estudos verificaram que o paciente que espera sete anos na fila tem 18% mais chance de morrer do que o doente operado de imediato.

Segundo a entidade, o número de demandas represadas é provavelmente mais alto, já que somente 16 Estados e 10 capitais responderam. Há ainda a fila por procedimentos nos serviços de saúde federais.

"Pela primeira vez o Conselho Federal de Medicina se aproxima do tamanho real da fila por cirurgias no SUS. Ainda que parciais, os números impressionam, já que os estados que prestaram informações representam metade de todo o volume cirurgias efetivamente realizadas na rede pública em 2016", explica o presidente da autarquia, Carlos Vital. Só no ano passado, 1.652.260 cirurgias eletivas foram realizadas no SUS.

Segundo ele, vários são os argumentos para tentar justificar o volume de pacientes à espera de uma cirurgia e todos eles têm a mesma origem: recursos finitos para administrar uma demanda que é infinita.

Tipos de cirurgias

As cirurgias mais demandadas pela população são de catarata, hérnia, vesícula e varizes. Já os estados com maior número de pessoas em espera é Minas Gerais com 434.598; em segundo lugar aparece São Paulo com 143.547 e em seguida, Goiás com 55.192. Caminha no mesmo sentido a capital com maior espera: São Paulo (30.980), depois Belo Horizonte (25.885) e Fortaleza (25.116).

Aumento do tempo de espera

Além desse quadro se agravar com o crescimento natural da população – taxa de 0,77% ao ano – há também os fatores econômicos e políticos que confluem para o aumento contínuo dessa lista.

A crise econômica ampliou a demanda pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como comprovam os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). De março de 2016 até março deste ano, 1,3 milhão de brasileiros deixaram de ter planos de assistência médica e passaram a utilizar o SUS. Inchando um sistema que já se encontra precarizado e que deve sofrer ainda mais com os cortes orçamentários do governo Temer e de sua equipe econômica, como o teto dos gastos que congela os investimentos em saúde pública durante 20 anos.

Em entrevista ao Portal Vermelho, o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Ronald Ferreira dos Santos, pontuou que existe uma fila absurda e inaceitável no sistema público de saúde brasileiro.

“O corte de investimentos com certeza irá piorar esse problema porque teremos a redução de recursos para a área e enquanto isso, as pessoas continuarão nascendo e envelhecendo, o que irá agravar a situação da saúde pública no país”, explicou Ronald Ferreira dos Santos.

Plano Popular de Saúde

Questionado sobre a criação dos Planos Populares de saúde, o presidente do CNS destacou que esses pacotes de assistência médica mais baratos não suprirão as lacunas do SUS, pois eles não englobam qualquer tipo de cirurgia, apenas consultas.

Ou seja, o Plano Popular proposto pelo atual Ministro da Saúde, Ricardo Barros, sob o discurso de que seriam uma saída são, na realidade, a desresponsabilização do governo pelo sistema público de saúde e a privatização dos serviços com menor cobertura e pior qualidade de atendimento.