Ao contrário do que dizem Temer e a mídia, PIB de 0,1% é “muito ruim”

Ao contrário do que dizem o governo e a mídia que apoiou o golpe, o crescimento do PIB de 0,1%, no terceiro trimestre – abaixo do 0,3% esperado – é um dado “muito ruim”. A avaliação é do professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, Ricardo Carneiro, que a divulgou na página do facebook Economia Contemporânea, editada por ele.

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Num pequeno texto, ele aponta várias razões para não ser otimista em relação à economia brasileira. “A estagnação ante o trimestre anterior se combina com a continuidade da desaceleração ante os dois trimestres do ano”, escreve.

No primeiro trimestre desse ano, o PIB interrompeu uma trajetória de oito períodos de retração e cresceu 1%, muito influenciado por um bom desempenho pontual da setor agropecuário. No trimestre seguinte, a alta foi 0,2%. Agora, o crescimento é ainda menos significativo, 0,1%, o que representa uma estabilidade. Nesta sexta, contudo, ao anunciar o novo resultado da economia, o IBGE revisou o PIB dos primeiro e segundo trimestres, fixando-os em 1,3% e 0,7%, respectivamente.

“Se considerarmos que o setor externo já começa a contribuir negativamente para o crescimento, com as importações crescendo mais rápido do que as exportações, resta o consumo das famílias. Os fatores extraordinários (FGTS) foram muito importantes para explicá-lo e não são repetíveis. O dado do investimento é positivo mas é muito atípico e volátil. Moral da história: muito provável um crescimento zero ou próximo dele, este ano”, conclui Carneiro.

O professor de economia da PUC, Antônio Corrêa de Lacerda, foi na mesma linha, ao considerar o resultado do PIB do terceiro trimestre “um balde de água fria” nas expectativas e “denota um quadro de estagnação”.

Para ele, nem mesmo o investimento, que foi destaque positivo das contas nacionais do terceiro trimestre, é motivo para otimismo. A Formação Bruta de Capital Fixo, que mede o investimento na produção, cresceu 1,6%, interrompendo uma sequência de 15 trimestres de queda ou estabilidade. “O investimento ainda está 30% abaixo do nível de 2014”, lembra o professor.

Os dados do IBGE mostram que o consumo das famílias cresceu menos nos três meses até dezembro, 1,2%. “O desemprego ainda é muito alto e o emprego que surge é ruim. Há ainda os juros. As quedas nas taxas básicas não chegaram ao crédito, que continua caro”, diz Lacerda. “Também não há estímulo para o investimento privado. É necessário, ainda, que o investimento público cumpra seu papel”, defende.

Walter Franco, professor de Economia do Ibmec-SP, avalia que o crescimento do investimento é positivo, mas ele, por si só, não é gerador de emprego. “É prioritário olhar para o emprego ou sempre estaremos sujeitos a humores externos ou sazonalidades domésticas. Se eu pudesse deixar apenas um recado é que o emprego precisa crescer”, ressalta o professor.

De acordo com ele, o crescimento do PIB nacional ainda se dá de forma pouco dinâmica, refletindo – grosso modo – o fraco desempenho de alguns de seus principais componentes ao longo deste ano de 2017. “Somado a isto, a fraca situação do emprego e o baixo ritmo de crescimento da renda do trabalhador contribuem decisivamente, e neste exato momento, para a lenta recuperação econômica nacional.”

Impopular, o governo tenta forçar a avaliação de que a recuperação da economia brasileira é algo dado. Nesta sexta (1º), o presidente Michel Temer divulgou um vídeo nas redes sociais para comentar o irrisório crescimento do PIB. “Os números mostram que recuperamos os investimentos. É o primeiro resultado positivo depois de mais de três anos. E por que isto é importante? Porque quando os empresários investem, a economia aquece e surgem os empregos. Vamos fechar 2017 no positivo, deixando para trás a recessão. É uma grande vitória”, disse o presidente.

O otimismo descabido não ficou por conta só do governo. A mídia que apoiou o impeachment da presidenta Dilma Rousseff também tenta transformar o 0,1% em um grande feito. O jornal O Globo já fala em “retomada consistente”. A Folha de S. Paulo ressalta o crescimento do investimento e diz que o PIB se “mantém positivo no ano”.

Um esforço para ver o copo meio cheio, o que não acontecia nas gestões do PT. Em 2006, um crescimento de 3,6% foi considerado “pífio” por O Estado de S. Paulo. Agora, o jornal estampa em sua manchete que o “PIB cresce 0,1% no 3º trimestre, mas tendência anima mercado”.