EUA podem ficar na Síria para evitar controle de Assad ou Irã

A administração norte-americana pretende manter as suas tropas na Síria depois da derrota do Estado Islâmico – objetivo que tem sido usado para justificar a sua presença no país. A meta agora é impedir a vitória do presidente sirio Bashar al- Assad e dos seus aliados iranianos, noticiou o Washington Post nesta semana

Coluna de carros do Exército da Síria nas proximidades de Damasco

A administração Trump está "alargando os seus objetivos" na Síria, que passam por uma permanência "potencialmente ilimitada" no território, para apoiar as chamadas Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas maioritariamente pelos curdos, informou o jornal na quarta-feira (22), referindo-se a declarações, feitas sob anonimato, de vários representantes norte-americanos.

Até aqui, Washington tem justificado a sua presença no território sírio com a necessidade de combater grupo terrorista Estado Islâmico (EI). Algo que faz de forma ilegal, sem consentimento do governo de Damasco e sem um mandato das Nações Unidas, apesar das declarações recentes do secretário de Estado da Defesa, James Mattis, que apontam um sentido contrário: "a ONU basicamente disse que fôssemos atrás do EI. E nós fomos lá atrás deles". 

É longa a lista de intervenções militares norte-americanas sem aprovação das Nações Unidas, bem como a das suas "justificativas" para falar nas TVs e convencer os "cidadãos" da justiça dos seus bombardeamentos, operações e destruição de estados soberanos.

De acordo com a matéria do Washington Post, os EUA estão decididos em manter-se no terreno para servir de contrapeso às forças vitoriosas de Bashar al-Assad – que não foi varrido do mapa, como pretendido – e dos seus aliados russos e iranianos.

"Uma retirada abrupta dos EUA poderia garantir a Assad o controle do território sírio e ajudá-lo a sobreviver politicamente – um resultado que seria uma vitória para o Irã, seu aliado próximo. Para evitar esse cenário, representantes norte-americanos afirmam ser sua intenção manter a presença das tropas dos EUA no norte da Síria (…) e estabelecer um novo governo local, fora do alcance do governo de Assad, nessas áreas", lê-se no jornal.

Ao confirmar-se essa presença, confirmam-se as acusações feitas há muito tempo contra os norte-americanos, por sírios e russos: estão atacando a integridade territorial da Síria e pretendem garantir o controle de recursos naturais sírios – como gás e petróleo –, continuando a desestabilizar a região, ao serviço dos "interesses dos sionistas".

Nicholas Heras, do Center for a New American Security, com sede em Washington, disse ao jornal citado que "existem condições para transformar a [alegada] campanha contra o EI em uma campanha contra o Irã" e que, "ao não estabelecer um limite temporal para a missão norte-americana, o Pentágono está criando uma estrutura para manter os EUA envolvidos na Síria por muitos anos". 

Presença militar dos EUA na Síria parece uma ocupação

Falando na quinta-feira (23) em conferência de imprensa em Moscou, a porta-voz do Ministério russo das Relações Exteriores, Maria Zakharova, afirmou que, "do ponto de vista do direito internacional, os Estados Unidos da América estão ilegalmente na Síria, não possuindo nenhuma autorização oficial ou um convite de Damasco". 

"Estão na Síria contra a vontade do governo legítimo do país, sem uma base legal; ou seja, o seu comportamento se assemelha ao de uma ocupação", acrescentou, citada pela PressTV.

Zakharova manifestou-se ainda espantada com as declarações recentes que sobre as intenções da administração norte-americana de prolongar a presença das suas tropas na Síria.