Ziraldo ilustrando o futebol

Nem todo mundo sabe, nem mesmo todo mundo que admira o trabalho do Ziraldo, que além das eventuais aparições futebolísticas do querido Menino Maluquinho, que dizem, era um grande goleiro, a relação do cartunista com o esporte preferido dos brasileiros já foi ainda mais profunda, e isso foi lá pelos idos de 1987…

Por Thiago Cassis*

Menino Maluquinho - Divulgação

Com o futebol brasileiro aprofundado em uma grande crise, que não era a primeira e nem seria a última, a CBF, em 1987, tinha dúvidas sobre organizar ou não o campeonato nacional. A entidade alegava que atravessa naquele momento uma grave turbulência financeira e que portanto, não teria Brasileirão naquele ano.



Foi então, que os clubes hegemônicos, e mais queridos pela Rede Globo, resolveram fundar o clube dos 13, uma espécie de “clube dos ricos” do futebol brasileiro. Que só tinha clubes do Sul e Sudeste, e para dar uma disfarçada na coisa, convidaram também o Bahia. O recém formado “Clube dos 13” resolveu então organizar o seu próprio torneio nacional. E convidaram Coritiba, Goiás e Santa Cruz, para dar uma “legitimada” na nova invenção. Assim como hoje em dia no Campeonato Brasileiro, os hegemônicos acharam que não era lá muito o caso de termos clubes da Região Norte no certame. Mesmo com os gigantes Paysandu e Remo.

 

Lá foram eles jogar a Copa União. Com a Coca-Cola, Rede Globo, Açúcar União, e outros, como grande patrocinadores, o torneio estava começando quando a CBF mudou de ideia e resolveu que também queria organizar seu campeonato, e ainda deixou claro que só reconheceria o torneio dos clubes hegemônicos, se no final os dois primeiros dos “grandes” enfrentassem os dois primeiros do Campeonato Brasileiro da entidade. Os participantes do torneio do clube dos 13 toparam. No campeonato da CBF estavam, entre outros, o Guarani, vice de 86 e o América-RJ, quarto colocado do ano anterior. No final, os “clubes ricos”, como bons “donos da bola”, disseram que não jogariam e que o campeão era quem vencesse o torneio deles. Azar dos vencedores da Copa União, que perderam a chance de disputar a Libertadores de 1988, que teve Sport, campeão brasileiro, e Guarani, vice, de 1987, como representantes brasileiros.



Mas o grande cartunista Ziraldo, que não tinha nada com essa confusão, foi convidado, nessa onda de “modernização” que representava o tal torneio dos “clubes grandes”, para redesenhar os mascotes dos principais clubes do país. As novas ilustrações foram publicadas no álbum de figurinhas da Copa União, lançado pela Editora Abril, que através da sua revista Placar sempre fez sistemática campanha a favor do torneio elitista e sempre sonhou em ver os estaduais destroçados.

 

O criador do goleirão, Menino Maluquinho, desenhou de forma brilhante os mascotes, que compilados nesse álbum de figurinhas que marcou época para toda uma geração de pequenos e pequenas que começavam a arriscar seus primeiros chutes em bolas de meia e bolas de capotão, em campinhos, praias ou paralelepípedos espalhados pelo Brasil.

Quem colecionou aquele álbum, vai se lembrar do simpático mascote do Santos, da raposa com a bola nos pés que representava o Cruzeiro, ou do que, pelo menos para mim, era o próprio Menino Maluquinho, disfarçado de mascote do Vasco (Seria ele vascaíno? Indagava ao seu pai, com 5 anos de idade este que vos escreve). Uma pena que conforme os anos tenham passado, a editora não tenha pedido novos mascotes para Ziraldo para clubes que chegavam a disputar o torneio da principal divisão, clubes como São José ou mesmo a Inter de Limeira, que chegaram ao Brasileirão em 1990. 


Ou até mesmo clubes que não chegaram depois disso na primeira divisão do campeonato nacional. Como seria, por exemplo, o Menino Maluquinho, que nesse caso poderia estar em seus trajes originais, representado como “Moleque Travesso” da Rua Javari? Que agora, já com 36 anos, sei que devia ser de fato o clube do coração do nosso pequeno e eterno amigo maluquinho.

Veja a galeria com alguns dos mascotes de Ziraldo:


Mascotes do Ziraldo