Renan: Cunha é o principal advogado de defesa de Temer

O governo recuou, mas tudo indica que Carlos Marun (PMDB-MS) deve assumir a Secretaria de Governo de Michel Temer. “Se ele quer nomear, deveria ter sido mais inteligente. Chega de intermediário, poderia nomear diretamente o Eduardo Cunha para ser o ministro da articulação política”, resumiu o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), ao comentar a indicação que integrava a tropa de choque do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso pela Lava Jato.

Renan Calheiros - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Em entrevista à BBC Brasil, Renan disse ainda que Cunha se tornou o principal advogado de defesa de Temer. Segundo o senador, Cunha exerceu forte influência na formação do governo Temer e “continuou a dar as cartas mesmo depois de preso”.

“A Justiça teve que encurtar a sua permanência em Brasília, onde ele passou os últimos 30 dias para fazer a defesa do presidente Michel Temer de corpo presente. Então nós tivemos nos últimos dias uma evolução. Ele saiu da condição de alguém cujo silêncio estava sendo administrado para alguém que admitiu fazer uma delação, e [depois] recuou para fazer a defesa do presidente”, analisou Renan.

Para ele, a nomeação do deputado Carlos Marun “é a continuidade desse processo”.

“Como eu disse, é uma coisa corajosa do presidente [Michel Temer]. Mas pouco criativa, porque continua a prestigiar intermediários. Ora, foi o Marun que, recebido em Curitiba por ele [Cunha] trouxe o nome do [deputado] Osmar Serraglio [PMDB-RS], que foi nomeado ministro da Justiça, depois substituído por este que está no cargo [Torquato Jardim)]”, destacou.

Sobre a agenda do governo, Calheiros diz que a proposta é contra o interesse nacional, “sobretudo pelo corte dos investimentos, dos programas sociais”.

“A “Ponte para o Futuro” [programa de orientação liberal apresentado pelo PMDB antes do impeachment de Dilma], ela é do futuro para o passado. Não é até o futuro. Ela é para trás, para o retrocesso”, enfatizou.

Sobre a reforma da Previdência, Renan diz que não tem viabilidade de aprovação. “O governo errou a mão na proposta da Reforma da Previdência. Tanto que está tentando refazer o encaminhamento. Você exigir 40 anos de contribuição para se aposentar não pode ser uma exigência nacional, pois as regiões tem circunstâncias particulares”, declarou.

Para Renan, a proposta do governo não tem o objetivo de resolver o problema da Previdência, mas “o problema fiscal”.

“O desejo de Meirelles era, com a reforma, acrescer uma receita ao Tesouro de R$ 800 bilhões em dez anos, de modo que neste cenário o Brasil seria o único país que resolveria o seu problema fiscal fazendo uma reforma da Previdência”, apontou.