Libano e Palestina criticam Liga Árabe por decisão sobre Hezbollah

O governo libanês e várias facções da resistência palestina condenaram a Liga Árabe por ter decidido classificar como "terrorista" o movimento de resistência xiita libanês, o Hezbollah, em reunião de emergência realizada no domingo (19) no Cairo

reunião de emergência da Liga Árabe

A decisão de classificar o Hezbollah como uma organização terrorista foi anunciada pelo secretário-geral da Liga Árabe, Ahmad Aboul Gheit, em uma conferência de imprensa na capital do Egito.

Ministros das Relações Exteriores e outros representantes do organismo estiveram reunidos, no domingo (19), depois da Arábia Saudita ter solicitado um encontro de emergência para abordar supostas "interferências" do Irã nos assuntos internos dos países árabes.

Jebran Bassil, ministro das Relações Exteriores do Libano, refutou, em comunicado, a inclusão do Hezbollah na lista de organizações terroristas, considerando que se trata de um "elemento fundamental do Estado libanês". Também o representante do Líbano na Liga Árabe, Antoine Azzam, rejeitou a decisão relativa ao Hezbollah, afirmando que a organização "representa grande parte do povo libanês" e que tem deputados no Parlamento no país, indica a PressTV.

Grupos da resistência palestiniana também denunciaram a decisão, sublinhando que serve os interesses de Israel e dos EUA, e que visa satisfazer a Casa de Saud. Num comunicado divulgado hoje, a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) afirma que a designação do Hezbollah como organização terrorista "reflete a hegemonia do Reino da Arábia Saudita sobre as decisões e as políticas adotadas no seio da Liga Árabe", bem como a "submissão" desse organismo "às ordens do imperialismo norte-americano e do sionismo".

"Esse ataque" revela as "verdadeiras intenções dos regimes árabes reacionários quanto aos movimentos de resistência e forças populares que rejeitam o sionismo e o domínio norte-americano na região", salienta a FPLP, acrescentando que não é possível reconhecer legitimidade nas decisões tomadas pela Liga Árabe, que "expulsa a Síria, justifica os crimes de guerra no Iêmen, ameaça o Líbano e permanece silenciosa sobre o bloqueio a Gaza».

Travar "violações" iranianas

A decisão relativa ao Hezbollah foi tomada no âmbito de uma reunião de emergência da Liga Árabe, convocada pela Arábia Saudita para abordar alegadas "agressões" e "interferências" de Teerã nos assuntos internos dos países árabes.

O ministro das Relações Exteriores saudita, Adel al-Jubeir, afirmou no Cairo que "o Irã criou agentes na região, como as milícias Huti e Hezbollah, em completo desrespeito por todos os princípios internacionais".

Riade acusa os iranianos de estarem ligados à explosão de um oleoduto no Bahrain, ocorrida no dia 11, e ao ataque com um míssil balístico, lançado pelos Hutis iemenitas no dia 4 deste mês, contra território saudita.

Al-Jubeir disse que "nenhuma capital árabe está a salvo desses mísseis", e a Liga Árabe, manifestando "não querer declarar guerra ao Irã nesse momento", apoiou o direito da Arábia Saudita de "defender-se no seu próprio território". Também deixou no ar a hipótese de levar o caso ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Muito investimento para poucos resultados

A assembleia de domingo (19), no Cairo, passou uma imagem de unidade, em um contexto em que os sauditas pareciam "pregar para os crentes", indica a RT. No entanto, as "emergências" da Casa de Saud mostram que, no terreno, as coisas não estão correndo como desejaria em vários cenários, perdendo influência no Líbano, vendo como a guerra de agressão ao Iêmen se prolonga e a resistência Huti se intensifica, e não sendo capaz de derrubar Bashar al-Assad, na Síria, depois de todo o investimento realizado.

O Irã – país tido como o principal opositor aos desígnios sauditas no Médio Oriente – tem classificado recorrentemente as acusações de Riade como "infundadas". Neste domingo (19), o ministro iraniano das Relações Extrangeiras, Javad Zarif, classificou como "ironicas" essas acusações, justo as que apontam o país como fonte de "desestabilização".

Zarif lembrou que o seu país tem trabalhado com a Rússia e a Turquia para garantir a existência de um cessar-fogo na Síria. Além disso, acusou os sauditas de "semearem a discórdia", alimentado o terrorismo, fomentando a guerra no Iêmen e a crise no Líbano.