“Estamos sendo vendidos barato”, afirma Dilma sobre entrega do pré-sal

Em entrevista à TV 247, a presidenta eleita Dilma Rousseff falou sobre as medidas do governo Michel Temer que alteram o modelo de partilha de exploração do pré-sal e sobre a conjuntura política.

Dilma TV Brasil 247 - Reprodução

Ela enfatizou que a principal mudança com o fim do modelo de partilha é que a riqueza do petróleo, que poderia ser revertida para todos, vai beneficiar apenas os cartéis. Dilma explicou que o no modelo de concessão, a base era a dificuldade de achar petróleo. “Era difícil. Tinha que pagar uma taxa de sucesso. Dispendia-se muito dinheiro com baixa chance de sucesso. Era justo que quem achasse e explorasse ficasse com o petróleo todo e pagasse ao Estado royalties e participação especial”, argumentou.

A diferença no caso do pré-sal, segundo ela, é que o petróleo é muito lucrativo, e nós descobrimos o pré-sal. “É diferente, agora. Nós sabemos onde o petróleo está, não precisa procurar. Fica tudo num grande polígono em alto mar. Sabemos onde fica, sabemos da qualidade e sabemos que a quantidade é enorme”, frisou.

Dilma destaca que o risco de investimento é baixo para a exploração, pois “é certo que ele está lá”. “Em situações assim, nenhum país do mundo fez outro regime que não seja o de partilha. A Noruega, por exemplo, aditou o regime de partilha, parecido com o nosso, e agora está aqui comprando o nosso petróleo do pré-sal baratinho”, argumentou.

Ela reforça que no modelo de partilha, a maior parte do petróleo é do povo, e a parte menor fica com os exploradores.

“Na partilha, 70% é da União, 30% é das empresas. No campo de Libra, a Petrobras tinha garantia de 30% do petróleo, mas há uma manipulação na maneira como contam isto. São 30% dos 30% das empresas exploradoras, o que significa na verdade apenas 9%. Para mudar a lei, fizeram uma conversa que engana a população brasileira. Além disso, a partilha tem um fundo social, do qual 75% ficou com a educação e 25% para a saúde. Este é o nosso passaporte para o futuro, que não tem no regime de concessão. Destinaríamos um volume enorme de recursos para a educação”, denuncia a presidenta.

Na entrevista, Dilma destaca que a educação é a maior política combate à pobreza. “Você pode fazer distribuição de renda, mas uma hora pode parar ou diminuir, podem cortar o Bolsa Família, como estão fazendo, e coisas assim, mas a educação é perene, você carrega para a sua vida, a redução da desigualdade promovida pela educação é permanente. O país enriquece, a nação enriquece. O mais grave é que o governo fez uma emenda parlamentar que simplesmente congela o gasto com saúde e educação por 20 anos”, disse.

A presidenta salientou ainda que além da mudança do modelo de partilha do pré-sal, o governo golpista está desmontando o modelo de conteúdo nacional. 

“O Brasil tem indústria e agricultura sofisticadas. O pré-sal com conteúdo local transformaria o Brasil num grande produtor de equipamentos, com uma indústria qualificada e de produtos caros. Produziríamos navios, plataformas, até móveis, equipamentos, tintas, etc. É uma cadeia produtiva enorme, produzindo no Brasil o que pode ser produzido no Brasil, e dando emprego a brasileiros. Até imaginávamos trazer para esta cadeia produtiva indústrias internacionais. Elas viriam para produzir aqui. Mas este governo está entregando tudo para ser feito no exterior”, afirmou.

Para ela, o futuro do Brasil é dramático. “Estamos sendo vendidos barato”, declarou. Ela defendeu a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, para definir os rumos do país, e de um referendo revogatório para desfazer os estragos cometidos pelo governo de Michel Temer.

"O Lula tem razão em falar em referendo. Não será quebra de contrato, estamos avisando antes, dizendo: olha, não comprem, porque o que está sendo feito é ilegal. Estão vendendo o que eles não tem voto e legitimidade para vender. Estão vendendo uma riqueza que não é deles e um país que não é deles e que eles não têm mandato pra vender", afirmou.

Sobre a possibilidade de candidatura ao Senado, Dilma disse que está num processo de avaliação. “Farei política, isto eu sei. Fiz política minha vida inteira. Comecei no Colégio Estadual Central de Minas Gerais, concebido por Oscar Niemeyer. Ali comecei a fazer política, milhões de anos atrás. Naquela época, como agora, eu fiz política e não tinha mandato. O único mandato que eu tive foi de presidente. Posso continuar fazendo política sem mandato. O que estou avaliando é se vou usar outra forma, como senadora, por exemplo”, afirmou.