Afranio Jardim: O perigoso discurso de descrédito das instituições

Acho que o delicado momento atual está a exigir uma maior sensibilidade de todos nós que estamos incluídos no chamado “pensamento de esquerda”. Não podemos supervalorizar as nossas mazelas institucionais de modo a dar pretextos para intervenções autoritárias em nosso país. Como teria dito o grande poeta Bertold Brecht, “a cadela do fascismo está sempre no cio”.

Por Afranio Silva Jardim, em sua página no Facebook

Afrânio Jardim - Reprodução

Acho que o delicado momento atual está a exigir uma maior sensibilidade de todos nós que estamos incluídos no chamado “pensamento de esquerda”. Não podemos supervalorizar as nossas mazelas institucionais de modo a dar pretextos para intervenções autoritárias em nosso país. Como teria dito o grande poeta Bertold Brecht, “a cadela do fascismo está sempre no cio”.

Não se trata de incentivar posturas omissivas ou complacentes com as degradações políticas, jurídicas e econômicas que predominam em nossa sociedade atual. Não se cuida sequer de amainar o indispensável espírito crítico que deve nos conduzir permanentemente.

Se bem observarmos, também agora as posições extremadas acabam se “encontrando”, como aconteceu no período que antecedeu o golpe militar de 1964. Forças radicais de esquerda e da direita, como propósitos diversos, acabaram criando um clima de insegurança, de ebulição social e ceticismo que serviu de “pano de fundo” para a draconiana intervenção militar. O presidente Salvador Allende, no Chile, também foi prejudicado por forças ideológicas radicais opostas. O chamado “esquerdismo” inconsequente, expressão cunhada por Lênin, acaba contribuindo para retrocessos danosos no desenvolvimento social.

Desta forma, parece-nos prudente que não apostemos no caos e não criemos uma falsa impressão de que o país está à deriva.

Não vamos “fazer o jogo” da nossa grande imprensa, que busca sistematicamente desmoralizar a política e os poderes constituídos da nossa República. Agora, a tônica é a desmoralização do Poder Judiciário e o incentivo às grandes crises institucionais.

Precisamos ser inteligentes e hábeis para não ajudarmos na criação de condições concretas que venham levar à derrocada do nosso sistema democrático. Embora de conotação burguesa e reprodutor de uma sociedade de classes, este sistema não deixa de ser um “espaço” para um trabalho político de conscientização popular relevante. Ruim com esta democracia elitista e abstrata, pior sem ela …

Estou legitimado a fazer a advertência supra, porque sempre fui e serei um crítico de como estão atuando as nossas principais instituições na atualidade. Entretanto, a crítica deve ser “tópica”, construtiva e estratégica. Deve ser uma crítica “política”, que faça parte de um processo de conscientização, e não uma crítica generalizada, radical, que crie um pensamento geral de que nada mais dará certo e que precisamos de intervenções autoritárias para “nos salvarem”.

Vamos “apostar” nas eleições gerais do próximo ano, que serão bem mais “limpas” do que as anteriores e, voltando ao poder as forças de esquerda, em uma espécie de frente ampla, deverão investir em uma educação massiva e crítica, bem como na indispensável democratização da nossa maligna imprensa, na democratização dos nossos meios de comunicação de massa. As transformações estruturais, em nossa economia, devem ser implementadas de forma paulatina e sustentável, embora uma maior distribuição da renda deva ser imediata.

Cabe salientar que não sou um “reformista”, como se dizia no passado recente, mas um “radical consequente”. Sem habilidade política, não se avança socialmente.