Intelectuais lançam manifesto em defesa da soberania do voto popular

Soberania popular é a saída para enfrentar a profunda crise política brasileira, que se agrava com a perda da credibilidade das instituições. Essa tem sido a bandeira defendida por diversas lideranças políticas. Nesta quinta-feira (5), intelectuais, artistas, economistas, advogados, jornalistas e sociólogos que compõem o projeto Brasil Nação lançaram um manifesto em defesa de eleição direta e irrestrita em 2018.

Intelectuais lançam manifesto - Rute Pina

“A democracia brasileira está em perigo. Para completar o golpe parlamentar, os atuais detentores do poder discutem a ideia de costurar um remendo parlamentarista ou adiar a eleição presidencial de 2018. Há tentativas de impedir a plena representação das camadas populares. Tudo isso é inaceitável”, diz o texto, que complementa o manifesto do Projeto Brasil Nação, organizado por Bresser-Pereira.

O lançamento do documento aconteceu na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo e contou com a presença do próprio Bresser-Pereira, do ex-ministro Celso Amorim e do historiador Luiz Felipe de Alencastro.

“O que está em crise é a nação brasileira. Precisamos mostrar que há uma alternativa [ao liberalismo] de desenvolvimento econômico”, defendeu Celso Amorim, enfatizando que o momento exige a construção de bandeiras convergentes que possam unificar os diversos setores da sociedade. Ele não descartou a realização de um encontro conjunto até o final do mês com essas forças.

“Nossos critérios são as ideias, os valores”, acrescentou Bresser-Pereira. “Todo o argumento do outro lado é que apenas o liberalismo resolve, o que é historicamente absurdo”, frisou.

O documento ainda critica a proposta de mudança do sistema político de presidencialista para parlamentarista e rechaça o adiamento da eleição presidencial de 2018.

De acordo com Bresser-Pereira, a proposta seria “impensável”, “non sense”. Ele reforçou que a democracia “empodera o povo” e deve ser defendida por todos.

“Nós sabemos que o capitalismo financeiro-rentista não é democrático. Ele não quer instalar a ditadura porque sabe que é muito perigoso, mas tem muito medo da democracia. Então, ele procura neutralizar de todas as formas o poder popular”, pontuou.

Já o professor e historiador Alencastro enfatiza que as eleições presidenciais em dois turnos possibilitam um “debate nacional”, além de garantir maioria absoluta ao candidato vencedor, evitando questionamentos sobre a legitimidade do processo ou sobre o resultado.

Confira a íntegra do manifesto:

Nós, que, em abril deste ano, assinamos o manifesto do Projeto Brasil Nação, voltamos aos brasileiros para defender a manutenção de eleição presidencial direta e irrestrita.

A democracia brasileira está em perigo. Para completar o golpe parlamentar, os atuais detentores do poder discutem a ideia de costurar um remendo parlamentarista ou adiar a eleição presidencial de 2018. Há tentativas de impedir a plena representação das camadas populares. Tudo isso é inaceitável.

A eleição presidencial direta representa o momento alto da nossa vida política brasileira. Ao longo das lutas republicanas, as eleições presidenciais, fortalecidas pelos dois turnos que garantem a maioria absoluta ao presidente eleito, se transformaram no momento político da afirmação na identidade nacional.

Na diversidade de suas regiões, de seus sotaques, de suas crenças, os eleitores arbitram o debate democrático sobre os destinos do país. No século 19, o Brasil foi o único agregado colonial da América que não se fragmentou na Independência. Na segunda metade do século 20, o Brasil se urbanizou, se expandiu para o Centro-Oeste e para o Norte. Desenvolveu sua indústria, criou a Petrobras e o BNDES, investiu em ciência e tecnologia. Padeceu a opressão ditatorial e reconquistou a liberdade.

Ampliada e consolidada na Constituição de 1988, a democracia republicana transformou a carcaça autoritária e oligárquica herdada do Império num vibrante Estado-nação. Nesse processo, a eleição presidencial permitiu que a maioria social se transformasse em maioria política.

Na contramão dessa conquista, o atual governo impõe uma política radicalmente oposta à decisão soberanamente expressa pelos eleitores no escrutínio de 2014. A eleição presidencial de 2018 é a condição essencial para que o governo recupere legitimidade e possa liderar um projeto de desenvolvimento nacional.

A diversidade e a liberdade de nosso país, a esperança dos que participaram da transformação da maioria social em maioria política, formam uma poderosa barreira contra o autoritarismo. Mas, no curto prazo, a perplexidade dos brasileiros diante da ambição de políticos sem voto, do sentimento de impunidade e de um programa antipopular e antinacional proposto pela grande finança e seus aliados favorece as manobras contra a democracia, contra a eleição presidencial direta, contra o sufrágio verdadeiramente integrador da nacionalidade.

Eleição presidencial direta e irrestrita em 2018!