Marcos de Oliveira:  A Rota passa pelo Brasil

A iniciativa chinesa do Cinturão e Rota pode beneficiar o Brasil? A resposta é: sim. Apesar de o centro do projeto ser a Ásia, espalhando-se para Europa e parte da África, a proposta da China vai além de criar caminhos de intercâmbio comercial.

Cinturão e a rota

 “A dimensão e grandeza dos investimentos criará uma dinâmica na economia global, que pode beneficiar não apenas as economias desse entorno, mas também de outras partes do mundo, como o Brasil e a América Latina”, como explicou em entrevista recente o cientista político José Medeiros, professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang, em Hangzhou.

A iniciativa se contrapõe ao atual engessamento da economia mundial provocado pela preponderância dos interesses especulativos financeiros sobre a produção real. Trata-se da forma como a China se coloca como grande potência, propondo parceria e cooperação para ganhos de todos os países. O projeto vai beber na Rota da Seda, que por 2 mil anos levou e trouxe mercadorias entre Ásia e Europa. Além disso, proporcionou intensa troca de culturas e tecnologias. A rota foi abandonada no século XV, tendo como marco o ano de 1453, quando os otomanos conquistaram a antiga Bizâncio, então Constantinopla, renomeada Istambul. O fechamento da rota estimulou o fantástico desenvolvimento da navegação, o aparecimento das potências ibéricas (Espanha e Portugal), um novo caminho para a Ásia e a descoberta para a Europa de um novo continente. E aqui aparece o Brasil.

Membro do Bric, nosso país pode desempenhar papel fundamental na nova construção mundial. Único integrante do grupo na América, seu peso é óbvio, e os Estados Unidos sabem disso. Por fazer parte dos países de língua portuguesa, tem também uma liderança natural neste grupo. Portanto, o Brasil há que estabelecer seus interesses e buscar parcerias para se integrar ao Cinturão e Rota. Em conversa com um colega de Bangladesh, este colunista perguntou como o país dele via a iniciativa chinesa. Ele respondeu que de forma positiva, ainda que a velocidade com que o projeto é implantado lá não corresponda ao desejo chinês. E assim deve ser, pois, se a China estabeleceu suas metas e interesses, cada país deve buscar a estratégia que melhor o atenda, dentro da colaboração mundial.

O grande problema conjuntural do Brasil é um governo ilegítimo, repudiado por 97% da população, e cujo único objetivo é fazer negócios questionáveis. Esta limitação pode ser superada em 2018. Independentemente disso, setores empresariais podem tocar uma agenda de interesse do país dentro da iniciativa. E aqui entra o problema de fundo: a ausência de um projeto nacional.