Cotas: conquista motiva mobilizações em meio à crise nas universidades

De acordo com Marianna Dias, presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), a aprovação das cotas raciais na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade de Campinas (Unicamp) são “uma motivação de esperança e de luta em um momento de perda de direitos dos estudantes, e de todos os brasileiros”.

Por Verônica Lugarini*

Cotas na USP - Reprodução

As cotas raciais e sociais foram aprovadas em julho deste ano na USP e na Unicamp, após um extenso período de discussões, e irão valer a partir do vestibular de 2018.

A meta da USP, por exemplo, é alcançar 50% de vagas destinadas a alunos vindos do ensino público até 2021, com espaço reservado a pretos, pardos e indígenas na mesma proporção da população no Estado de São Paulo, ou seja, de 37%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar dela ter sido a primeira a propor o debate sobre as cotas raciais, ela foi a última a implementar essa política.

Diante de um país com histórico racista – último país a abolir a escravidão na América – a conquista das cotas são um avanço e demonstram que, mesmo durante um governo conservador liderado por Michel Temer, a luta pelos direitos e pela igualdade racial se fortifica.

“Essa aprovação nas universidades mais elitistas do país, que resistiram por muitos anos em aprovar as cotas, nos motiva porque estamos sofrendo um desmonte na área da educação, com perda de todos os direitos. Então é uma vitória muito grande e histórica, uma luta gerações de muitas gerações que lutaram por isso. Tínhamos poucas perspectivas, de aprovação, mas aconteceu e com isso, podemos mostrar que há esperança”, disse Marianna Dias em entrevista ao Portal Vermelho.

“A cota é uma modalidade de ação afirmativa que visa diminuir as distâncias, no caso das universidades, na educação superior. Mesmo sendo a maioria no Brasil, a população negra é muito pequena na academia. E por quê? Porque o racismo institucional impede a mobilidade social e o acesso da população negra a esses espaços”, explica Djamila Ribeiro, pesquisadora na área de Filosofia Política e feminista, em coluna na Carta Capital.

O país passa hoje por um conturbado cenário na educação com a crise das universidades públicas. Até agora, o Ministério da Educação (MEC) cortou R$ 4,3 bilhões, anteriormente o investimento definido era de R$ 35,74 bilhões, o que representa uma diminuição de 12% do orçamento destinado ao setor.

O reflexo dessa política restritiva já é visível. Nesta terça-feira (05), foi divulgado o ranking das mil melhores universidades do mundo e, em apenas um ano, o Brasil perdeu 6 instituições que estavam no ranking, caindo de 27 para 21 na lista da Times Higher Education.

É fato que há uma deterioração da educação no país, mas a presidenta da UNE destacou que é preciso considerar os avanços dos últimos anos, como o ProUni e o Fies, que democratizaram o ambiente universitário.

Para ela, o mais importante é continuar com a mobilização para que os estudantes entendam a necessidade de lutar.

“Apesar de serem duas grandes conquistas, o Fies e o ProUni são programas que também tem passado por mudanças, mudanças autoritárias inclusive, que não passaram por nenhum tipo de diálogo com os estudantes ou com a comunidade acadêmica. Por isso, mobilizamos os estudantes para que eles acreditem que sem a luta tudo é mais difícil”, finalizou Marianna Dias.