Plínio Bortolotti: Para piorar o que já é ruim

“Mesmo com ‘distritão’ e querendo botar a mão em bilhões para fazer campanha, ainda há políticos com medo de ficar sem as benesses do poder. Por isso, surge novamente a conversa do parlamentarismo ou ‘semipresidencialismo’, seja lá o que isso queira dizer. Essa ideia luminosa só aparece quando grupos mal acostumados não estão assentados na cadeira presidencial ou prestes a serem enxotados dela”.

Por *Plínio Bortolott

bandeira do brasil rota

Não existe sistema eleitoral perfeito em nenhum lugar do mundo – porém o que vige no Brasil é um dos mais sofríveis, como se pode observar, por exemplo, no amontoado de partidos que pululam em Brasília. Portanto, a votação para mudar o sistema deveria contar como ponto positivo para o Congresso Nacional, que anda com a imagem bastante embaciada. Só que não.

O problema é que os nobres políticos querem piorar o que já é ruim. Um debate dessa importância – que deveria ser bem realizado, com ampla participação popular – normalmente é feito no afogadilho, em véspera de eleições, de modo que as reformas pretendidas acabam por se tornar meros remendos para salvar mandatos e preservar velhos costumes.

Esse é o caso do tal “distritão”, formulado de modo a beneficiar os políticos tradicionais (mas pode chamar de caciques ou coronéis), que têm o domínio das máquinas partidárias. Também está na pauta a criação do Fundo Especial de Financiamento da Democracia; o nome é bonito, mas, na prática, significa distribuir mais R$ 3,6 bilhões para os partidos utilizarem na campanha eleitoral.

É claro que nas democracias recursos públicos têm de ser usados para manter a vida partidária, mas, no Brasil, o excesso chega às raias do escárnio. O já existente fundo partidário, que este ano vai distribuir R$ 819 milhões aos partidos, mais a cessão do horário gratuito de rádio e TV, já parece suficiente para financiar campanhas em tempos de crise. Para fazer mais caixa, os partidos deveriam correr atrás dos eleitores, convencendo-os de que vão trabalhar para o bem público e, para isso, precisam de doações para bancar suas campanhas (as empresas devem ficar fora disso).

Mesmo com “distritão” e querendo botar a mão em bilhões para fazer campanha, ainda há políticos com medo de ficar sem as benesses do poder. Por isso, surge novamente a conversa do parlamentarismo ou “semipresidencialismo”, seja lá o que isso queira dizer. Essa ideia luminosa só aparece quando grupos mal acostumados não estão assentados na cadeira presidencial ou prestes a serem enxotados dela.

*Plínio Bortolotti é jornalista.

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