Cristina Kirchner volta à linha de frente do jogo político argentino

Aconteceram neste domingo (13) as eleições primárias (Paso – Primárias Abertas Simultâneas Obrigatórias) na Argentina e mais de 24 horas depois o resultado ainda é incerto. A pouca eficiência na apuração dos votos levou a ex-presidenta Cristina Kirchner a acusar o governo de Maurício Macri de manipular o sistema eleitoral. Ela e o candidato macrista Esteban Bullrich disputam a mesma cadeira no Senado.

Cristina Kirchner - Politica Argentina

A apuração dos votos demorou mais do que o normal e, quando faltava apenas 4% para encerrar a contagem, foi suspensa, na madrugada de domingo (13). O resultado parcial apresenta empate técnico: o candidatado da coalizão Cambienos, Bullrich, tem 34,19% dos votos, enquanto Cristina, que concorre pela Unidade Cidadã, conta com 34,11%. Em terceiro lugar está o ex-candidato a presidência Sergio Massa, com 15,53%.

Para o cientista político espanhol Alfredo Serrando Mancilla, este resultado mostra a “volta de Cristina” ao cenário político porque ela concorreu sem a estrutura do “rockstar” apoiado por Macri e ainda assim disputa voto a voto até o último segundo. “Apesar de não dispor do aparato partidário, nem de instituições de governo que a apoiem, a ex-presidenta volta à primeira linha do jogo”, garante o especialista.

Assim que a contagem foi suspensa, o secretário de Assuntos Políticos e Institucionais do Ministério do Interior, Adrián Perez, fez uma declaração vaga à imprensa: “pode ser que ganhe Cristina, pode ser que ganhe Bullrich. Estes 4% que faltam ser apurados serão definitivos”.

Cristina foi a público criticar o fato de a contagem ter sido suspensa ao chegar a 96% e apontar o empate técnico. “A democracia argentina é mais forte do que sua manipulação e sua arrogância”, afirmou. Segundo ela, na noite deste domingo a Argentina viveu “um fato inaudito, insólito, vergonhoso de manipulação política: tentaram ocultar a verdade”. A ex-presidenta disse ainda que sua coalizão irá “defender os direitos da maioria” e que “o primeiro direito é o voto”.

“Não vamos parar até que se contem todos os votos, porque sabemos que ganhamos. Cada voto conta, cada voto é parte da soberania popular. E por um voto se pode decidir um legislador a mais ou a menos para defender os cidadãos desse ajuste insensível e injusto”, afirmou.

Cristina concluiu dizendo que resta “esperar o escrutínio eleitoral definitivo”. “Podem atrasar a entrega dos dados, manipular de maneira trapaceira a realidade, arrastar este escândalo por mais 20 dias até o resultado definitivo, querer criar uma realidade paralela na mídia, tentar ocultar, maquiar, distrair e confundir, mas não vão conseguir”, disse a ex-presidente.

As eleições primárias servem para definir quem serão os candidatos da eleição legislativa que acontecerá no dia 22 de outubro. A população irá às urnas para eleger metade dos 257 deputados e um terço dos 72 senadores do país.

Alfredo ironiza que as Paso são como partidas de futebol de pré-temporada, “todos dizem que não são importantes, mas ninguém quer perdê-las”. E neste primeiro jogo, Cristina “não teve uma vitória esmagadora, mas deu o primeiro passo fundamental para seu retorno”.