Nós transexuais: mortas duas vezes 

Uma jovem ofendida na internet depois de ser morta a golpes de martelo. As agressões contra quem muda de sexo são sempre crueis e desumanas: uma subcultura violenta, que deve ser combatida diariamente 

Por: Sabrina Ancarola e Elena Sofia Trimarchi

Mulher transexual

A internet nos mostra uma série de percepções distorcidas, inclusive quando se trata de liberdade. O cinismo é exaltado, e o que prevalece é o sentimento de “liberdade” para disparar ofensas contra vítimas de violência. Depois, quando algumas dessas ofensas assustadoras são denunciadas pelos outros, há reclamações por aqueles que as proferiram.

A transfobia, a homofobia, o racismo, a misoginia: insultos são depravados contra pessoas que possuem condições diferentes devido à sua aparência, sua origem, sua cultura, sexualidade ou por qualquer outra coisa. Essas pessoas são agredidas por meio de inúmeras ofensas na rede, em nome de outro conceito distorcido: a sátira. Quem denuncia as agressões, seja vitima atingida diretamente ou não, é acusado de censura e de restringir a liberdade do próximo. Mas e as vítimas? E suas famílias?

Ano passado uma jovem transexual foi morta a golpes de martelo pela pessoa da qual tinha se separado. Nos últimos dias, um estudante comentou que “os golpes foram o mínimo, o certo foi matar aquela trans. Eu teria feito pior”. O estudante apagou o post da sua página junto com comentários próprios, em que o jovem afirmava estar “contente” que sua opinião tivesse atingido tanta gente.

A violência contra as pessoas transexuais é cometida de forma cruel e depreciativa: estupros, agressões e assassinatos. São vítimas, até depois de mortas, de comentários perigosos que fazem apologia diratea ao desumano.

Essa desumanidade, que é facilmente encontrada na web, deve ser condenada. O respeito a vida de qualquer pessoa deve ser sagrado. É uma questão cultural e educacional, que deveria estar presente no currículo escolar de todos os colégios. 

A questão é essencial e urgente, mas na política ainda existe recusa em tomar atitudes. Enquanto se posterga o enfrentamento à violência, as agressões e as mortes continuarão.