Contra Temer, Globo diz que planos de Meirelles correm risco

 Em guerra com Michel Temer desde a bombástica delação da JBS, o Grupo Globo deflagrou mais uma rodada de ataques ao presidente, agora usando o "queridinho do mercado" Henrique Meirelles como isca.

Henrique Meirelles - Marcelo Camargo/ Agência Brasil

No mesmo dia em que portais divulgaram que o DEM e o PSDB fecharam questão sobre a permanência de Temer até o fim do mandato, o jornal O Globo usou quatro colunistas para expôr os conflitos da equipe econômica e sustentar que os problemas políticos de Temer viraram um risco real à economia.

Desde que foi atingido pela Lava Jato, Temer se agarrou fortemente à agenda econômica encampada por Meirelles para se segurar no cargo, se aproveitando do apoio a Meirelles em vários setores, vocalizado na blindagem feita pela grande mídia.

"Não se diga que estão fritando Henrique Meirelles. Ele é um queridinho do mercado, entende-se bem com Michel Temer e vocaliza as ortodoxias de gênios que sabem como consertar o Brasil, mas não conseguem conviver bem com seu povo. Meirelles está sendo fervido", disse Elio Gaspari.

O artigo de Gaspari, divulgado nesta quarta (26), critica Meirelles por ter prometido coisas que não cumpriu, como entregar a reforma da previdência (que, no máximo, deve estabelecer uma idade minima para aposentadoria) e uma reforma trabalhista que foi aprovada com negociações paralelas por verbas para sindicatos.

"O remédio de Meirelles foi aumentar um imposto. Faça-se justiça ao doutor registrando que ele nunca se comprometeu a não aumentá-los. O seu problema é outro. Ele lida com essas taxações como se fossem uma arma para punir uma sociedade que é obrigada a pagar porque ele e seu presidente não fazem o serviço que prometem."

Miriam Leitão dedicou-se a criticar a resistência do governo em revisar a meta fiscal, "que é de um déficit de R$ 139 milhões", num contexto em que mais um corte de R$ 5,9 bilhões foi promovido nas despesas e há setores do governo que não terá mais recursos para sobreviver dentro de 2 meses.

A jornalista destacou que Temer depende urgentemente de um aumento de receita, e está confiante de que vai tirar R$ 11 bilhões da venda de usinas da Cemig. Mas a Cemig entrou na Justiça e acredita que não vai perder.

"Em condições normais, o governo deveria estar investindo mais para sair da recessão, mas ele está cortando as despesas já previstas. Esta não é uma situação normal: o país entrou numa recessão no meio de uma escalada da crise fiscal. E não pode simplesmente elevar a previsão de déficit porque isso agravaria a crise de confiança."

Merval Pereira, por sua vez, disse que hoje há "um racha na equipe econômica", em virtude do núcleo mais ligado a Temer impedir Meirelles de tomar as medidas necessárias à recuperaçãao econômica.

O jornalista ainda afirmou que enquanto Meirelles tenta salvar a economia, Temer aumenta despesas comprando o voto de deputados contra a denúncia da Lava Jato.

"Paradoxalmente, para um governo que precisa reduzir o gasto, o presidente Michel Temer está à frente de barganhas nos bastidores para obter votos suficientes para matar a denúncia da Procuradoria-Geral da República. Essas barganhas aumentam os gastos, e podem significar a derrota do projeto da equipe econômica."

Para Merval, o governo está "cada vez mais na mão de uma minoria da Câmara, aumentando as chances de os aproveitadores quererem tirar cada vez mais vantagens em cima do governo, colocando a meta fiscal, que já está ameaçada, em risco."

Lydia Medeiros endossou o time com uma nota sobre a pressão em cima de Meirelles pela revisão da meta fiscal, atrelando o assunto às dificuldades políticas de Temer.

"A unanimidade política em torno da equipe econômica sofreu abalos com a decisão do governo de aumentar impostos para cobrir o rombo nas contas públicas. E o debate sobre a meta fiscal voltou à pauta. Ganha força de novo a ideia de adotar uma meta mais frouxa, que admita um déficit maior, mas com menor custo político. A tese foi defendida desde o início do governo por ministros e pelo senador Romero Jucá. Caso vença, será o primeiro sinal de enfraquecimento de Henrique Meirelles. O presidente Temer terá que fazer sua escolha."