Empresários criticam alta de impostos e pato da Fiesp volta à Paulista

A lua de mel dos empresários com Michel Temer durou pouco. Se a política econômica há muito provoca insatisfação, a pá de cal no romance parece ser a alta de impostos sobre combustíveis. Em notas oficiais, as entidades do setor produtivo avaliaram que a medida vai atrasar a recuperação da economia. “Indignado”, nesta sexta (21), o pato amarelo da Fiesp, que esteve na linha de frente do golpe contra Dilma Rousseff, voltou à Avenida Paulista.

pato da fiesp - Débora Melo/CartaCapital

O mascote de borracha é símbolo da campanha da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) contra a carga tributária brasileira e, no passado, ganhou as ruas pelo impeachment da ex-presidenta. Parceiro no golpe, andava sumido desde a chegada de Michel Temer ao poder. Seu retorno à cena, portanto, indica que algo não vai bem na aliança que derrubou a petista.

Contrária à ampliação de impostos anunciada nesta quinta (20) pela gestão Temer, a Fiesp resgatou o escorregadio bordão “chega de pagar o pato”, instalou um pato amarelo de cinco metros na frente de sua sede na Avenida Paulista e distribuiu mascotes menores aos que transitavam por lá durante esta manhã.

O resgate da campanha mostra que o compromisso do empresariado é com a agenda que lhe interessa, não com Temer. As entidades do setor produtivo, que se mantiveram em silêncio sobre as denúncias de corrupção que envolvem o próprio presidente, recobram a voz no momento em que a gestão mexe em seu bolso.

Em nota divulgada ainda nessa quinta, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, dirigiu-se ao titular da Fazenda, Henrique Meirelles.“Ministro, aumentar imposto não vai resolver a crise; pelo contrário, irá agravá-la bem no momento em que a atividade econômica já dá sinais de retomada, com impactos positivos na arrecadação em junho. Aumento de imposto recai sobre a sociedade, que já está sufocada, com 14 milhões de desempregados, falta de crédito e sem condições gerais de consumo.”

A posição foi acompanhada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Sistema Firjan. De acordo com o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, o aumento das alíquotas de PIS/Cofins sobre gasolina, etanol e diesel trará impactos negativos para consumidores e empresas. “A elevação dos tributos (…) provoca o aumento dos custos das empresas e reduz o poder de compra das famílias, o que prejudica o crescimento da economia”, defendeu.

Já a Firjan defendeu em nota que “a saída para a crise fiscal não passa por mais aumento de impostos”. Para a entidade, no momento em que o país enfrenta sua pior recessão, não é adequado onerar o custo do transporte e da produção.

“No Brasil e no estado do Rio será registrado, em 2017, um novo recorde de fechamento de empresas. (…) Na prática, isso significa que novos aumentos de impostos podem resultar em queda, e não em aumento da arrecadação, simplesmente porque o próprio fisco está expulsando os contribuintes da base de arrecadação tributária”, disse.

Na sua cruzada contra os impostos, os empresários que apoiaram o golpe ignoram, contudo, o principal problema da carga tributária brasileira, que é a injustiça fiscal – o fato de que os que têm mais pagam poucos impostos, enquanto os mais pobres pagam muito.

Advogando em causa própria, nas notas emitidas contra a recente decisão de Temer, as entidades empresariais criticam, por exemplo, os gastos do governo com a Previdência, que sustenta tantos brasileiros. Mas esquece de mencionar os valores estratosféricos que são utilizados para pagar juros da dívida pública e beneficiam poucos rentistas.