Marina Valente: Quem defende os “sem-coluna” do jornalismo antiético?

“Eu nem acredito em jornalismo imparcial (ninguém é imparcial), mas eu acredito em jornalismo honesto. Para praticar jornalismo honesto, a gente não pode inventar coisas. No jornalismo honesto, quando a gente tem lado, a gente assume. No jornalismo honesto, a gente não pode agir com dois pesos e duas medidas, adjetivando e qualificando as coisas de acordo com o ‘time que torce’”.

Por *Marina Valente

Miriam Leitão

Não estamos acima do bem e do mal. Claro, que não se deve xingar ou agredir a nós ou a nenhum ser vivo. Apenas penso que deveriam ter se tocado sobre isso faz tempo. Uma linha foi cruzada quando a própria imprensa violentou nossa sociedade das mais diversas formas e ignorou o absurdo de criarem adesivos de Dilma com as pernas abertas, colocação de outdoors com mensagens de ódio e até perseguição de crianças por estarem vestidas de vermelho.

Embora o discurso de quem começou primeiro não resolva a situação, não se pode ignorar que colocaram um alvo nas costas de cada pessoa comum que defende ideias do campo progressista.

De vagabunda? Já fui chamada uma pá de vezes! Simplesmente por estar na rua defendendo o que acredito. Mandaram-me até trabalhar, como se eu já não o fizesse (e muito diga-se de passagem). E sabe o que é pior, Miriam? Não tem ninguém que nos defenda.

Na verdade, toda a classe trabalhadora não dispõe de uma única coluna nos grandes jornais para poder contar a sua versão das coisas. Quando muito, um artista ou intelectual de esquerda consegue esse espaço e "fica feito sanduíche" entre os demais colunistas tentando “gritar” no lugar da gente.

Para piorar os patrões, há alguns anos atrás, promoveram (e seguem promovendo) um desmonte do jornalismo. E seguimos sem conselho profissional, o que permite que o ofendido pelos excessos da grande mídia, quase sempre, só consiga se defender abrindo um processo na Comissão de Ética das entidades sindicais (que no máximo resulta na expulsão dos quadros de sócio), com um direito de resposta “chinfrim no rodapé” ou nos custosos e demorados processos da justiça comum.

Então veja, Miriam, estupram nossa democracia, acabam com o jornalismo ético e destroem vidas e reputações, e isso não vira coluna. Na verdade, Miriam, penso que pelo desejo de seus patrões, isso seria norma, desde que não estivéssemos falando deles e dos seus. Triste, né? Então que tal fazer diferente?
Primeiro, eu te chamo a uma profunda reflexão sobre o exercício ético do jornalismo. Será mesmo, Miriam, que você acredita que não tem expressado sua visão naquilo que produz? Veja bem, eu nem acredito em jornalismo imparcial (ninguém é imparcial), mas eu acredito em jornalismo honesto. Para praticar jornalismo honesto, a gente não pode inventar coisas. No jornalismo honesto, quando a gente tem lado, a gente assume. No jornalismo honesto, a gente não pode agir com dois pesos e duas medidas, adjetivando e qualificando as coisas de acordo com o “time que torce”. Não dá, por exemplo, para acusar a Dilma da crise econômica e omitir que a crise era mundial, e quando chegar no Temer, dizer que a culpa não é dele, pois, a crise é mundial. Saca?

Segundo, quando você perceber que tem um espaço só seu, onde somente sua voz pode ser ouvida, é bom ter cuidado com a verdade totalitária. Não dá para acusar o outro e, de repente, surgirem vídeos e testemunhas do fato te contradizendo. Imagino que, ao ser criticada, você tenha se sentido doída. Dói mesmo, ué! Mas não se esqueça que ao erguer sua pena, você é responsável pelo que escreve.

E da minha parte? Da minha parte, eu vou seguir defendendo o jornalismo, nosso código de ética e a democracia. Vou também seguir erguendo minha pena com responsabilidade e para pregar conceitos como justiça e igualdade, e pregando amor. Pois do jeito que vão as coisas, só pregando amor é que a gente faz parar esse ódio todo que foi semeado. Também vou te defender caso alguém te xingue ou te agrida. Mas, não vou, Miriam, defender você de manifestação. A voz, Miriam, é a única ferramenta dos “sem-coluna”.

*Marina Valente é jornalista sindical.

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