Artistas e amigos cearenses realizam Tributo a Gilse Cosenza

Uma noite memorável para homenagear uma mulher admirável. O Estoril, tradicional cenário da cultura popular cearense, abriu suas portas neste domingo (11) para reverenciar Gilse Cosenza, que faleceu no último dia 28 de maio, vítima de complicações de um câncer. Nem a doença nem os maiores desafios que enfrentou ao longo de sua trajetória, conseguiram roubar-lhe a esperança nem a determinação para continuar.

Tributo a Gilse

Centenas de pessoas participaram do Tributo em homenagem à “moça revolucionária, aço em flor”. Familiares, amigos, camaradas de PCdoB, artistas, contemporâneos e conterrâneos reverenciaram com sorrisos, acordes e poesias o exemplo de mulher, de militante, de defensora dos direitos do povo e do país.

O sarau contou com a participação de jovens artistas e antigos companheiros defensores da arte e da cultura. Entre abraços e histórias compartilhadas, a exaltação à vida de Gilse Cosenza e o reconhecimento de sua brilhante e emocionante trajetória.

Abel Rodrigues Avelar, atual secretário estadual de Organização do PCdoB, e companheiro de Gilse por mais de 20 anos, enalteceu a iniciativa da homenagem. Para ele, que com ela chegou ao Ceará com a missão de reorganizar o Partido no Estado ainda na década de 1970, a homenagem é “mais do que justa e transcende o reconhecimento dos comunistas”. “Este tributo é de todo mundo que conheceu e conviveu com ela. Gilse é dessas pessoas especiais que por onde passa deixa marcas pela coragem, determinação, firmeza de posições e doçura. Este tributo é um canto à vida dela, intensa, de coerência e de acolhimento de ideias e pessoas. Estamos aqui para levar adiante seu legado, de continuar a luta por um país mais avançado, democrático, de liberdade, igualdade e fraternidade, que era o sonho dela e que continuaremos partilhando”, enaltece.

Rodrigues considera ainda que sua partida, neste momento de ameaças aos direitos que Gilse e outros camaradas tanto defenderam, deverá ser combustível para continuar na luta. “Todos os desafios que estão postos reforçam a trajetória dela, de defesa da democracia com convicção. Ela sempre dizia que o tempo joga a nosso favor, que a história avança e não anda pra trás. Tinha confiança imensa de que seríamos vitoriosos, e tudo isso pode se aplicar hoje, contra os golpistas e o retrocesso do país. Vamos continuar à frente desta luta, sendo iluminados pela luz que sempre veio dela e continuará nos guiando”.

Para a filha Gilda, não dá para lembrar de Gilse com tristeza. Ela ratificou a emoção de o povo cearense render esta homenagem à mãe. “O Ceará significa muito pra gente. Aqui abriga boa parte da nossa história e ela amava este lugar, que passou a ser a nossa terra também. Esta homenagem nos fortalece e é extremamente significativo. Por mais que a emoção bata, é um momento de alegria por tudo o que ela viveu, pela história que construiu e pelo respeito que consolidou. Certamente daremos continuidade à tudo que ela acreditou e defendeu, pois a sua marca de luta continua em cada um de nós, quer seja na defesa da cultura, da arte nas ruas, pelo Fora Temer, na luta por Diretas, contra a ditadura, contra a opressão, contra o machismo. Esta luta foi dela, é minha, da minha irmã, das minhas filhas, e de todos nós que a conhecemos e defendemos um mundo mais justo. Gilse sempre fez questão de dizer que era importante ‘ter força para lutar, alegria de viver e prazer de amar’. Seguiremos seu legado”, afirma.

Juliana Cosenza, também filha, confidenciou estar “impressionada” com tanto carinho. “Eu particularmente não tinha a dimensão do que ela representava para tantas pessoas. Para nós, era tudo tão natural a luta dela e de meu pai, que permanece tão bravamente engajado, que não tinha ideia do quanto seu exemplo criou raiz”. Juliana disse que, durante o velório, tinha gente de várias gerações, inclusive jovens, que diziam ter recebido apoio de Gilse durante as ocupações nas escolas, de pessoas que compartilharam com ela tantas histórias. “A vida da minha mãe foi muito intensa. Sua determinação para tudo na vida era impressionante e serviu de exemplo para nós. E esta garra e perseverança que ela tanto defendeu seguirão com a gente, não só por um país melhor, mas para um mundo mais justo, tanto para a geração atual quanto para as futuras, as de suas netas que ela tanto amou. É com este intuito que nos despedimos aqui. Com a convicção de defender o Brasil, por ela, por nós, por suas netas. Há um pouco de Gilse em cada um de nós. Há muito dela em nós”.

Participaram do tributo Eugênio Leandro, Pingo de Fortaleza, Parahyba Medeiros, CIA Bate Palmas, João Victor, Rejane Reinaldo, Gildomar Marinho, João Pirambu, Ronaldo Lopes, Serrão, Bernardo Neto, Johnson Soares, Rita Lisboa, Jord Guedes, Duoal, Joana Limaverde, Rogério Lima, Mandingueiros Intergaláticos, Masor Costa, Emiliana Costa, Juracy Mendoça, Banda 70 Bege, Dedé Nunes, Carlinhos Perdigão, Gabriel Souzinha e Roberto Viana.