De Gilse para Gilse

Gilse Barbosa Guedes nasceu no final dos anos 1960, quando seu pai, José Luiz Guedes, e sua mãe, Nair Barbosa Guedes, atuavam clandestinamente na resistência contra a ditadura militar imposta ao país em 1964. Nestas circunstâncias, seus pais decidiram homenagear uma jovem que também resistia, mas nos cárceres da ditadura.

Gilse Cosenza - Foto: Arquivo da família

De Gilse para Gilse

Me chamo Gilse por causa da Gilse Cosenza. Desde que soube da morte dela me bateu uma vontade de escrever. Queria ter dito a ela o que bate no meu peito agora. Queria ter dito a ela o quanto sinto orgulho do meu nome, que é o seu nome, que é sua história e que é minha história. O nome Gilse marca a nossa história.

Por obra e graça do destino tenho o mesmo nome de uma guerreira. Minha mãe conta que talvez eu me chamasse Juliana. Como teria sido a minha vida até agora sendo Juliana? Mas eu não tenho cara de Juliana, jeito de Juliana. Tenho jeito e cara de Gilse. E sou Gilse por causa da Gilse, quer coisa mais forte que isso?

Eu estava na barriga. E Gilse Cosenza estava na prisão, sendo torturada. Dois destinos diferentes, duas vidas. Nossos destinos se cruzaram. E a vida me deu o desafio de ter o seu nome. Meus pais estavam com medo que a Gilse não resistisse na prisão. As barbaridades que ela sofria eram muitas. Escolheram Gilse para ser meu nome, com outra história, mas parte de uma mesma grande história, a história do Brasil.

Sempre fico impressionada, a pensar: como uma pessoa conseguiu resistir ao que ela resistiu? É humanamente possível? Acho que não. Mas ela conseguiu. Queria poder lhe dar um último abraço e lhe dizer o orgulho que tenho de ser filha de um Brasil que teve a Gilse Cosenza a lutar por nós.

Gilse Guedes