Movimentos em defesa da paz afirmam repúdio à Otan em Bruxelas

Na véspera da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), nesta quinta-feira (25), na capital da Bélgica, diversas entidades populares protestaram em rechaço ao imperialismo, o racismo e a xenofobia.

Manifestantes protestam contra Otan em Bruxelas

O Conselho Mundial da Paz (CMP) e seu membro belga, Intal, realizaram dois eventos antes da grande marcha de quarta-feira (24), que a presidenta do CMP, Socorro Gomes, avaliou como importantes para o fortalecimento da luta. O Cebrapaz participou, representado pela diretora de Comunicação Moara Crivelente.

Confira abaixo os discursos:

O Conselho Mundial da Paz tem promovido, desde a cúpula da Otan em Lisboa, em 2010, uma campanha de peso contra o bloco político-militar liderado pelos Estados Unidos, intitulada “Sim à Paz! Não à Otan!”

Além dos vários eventos, atos e seminários em diversos países em que atuam os membros do CMP, a entidade e seu membro belga, Intal, também realizaram um seminário, no dia 23, e uma conferência, no dia 24, antes da marcha organizada entre diversos movimentos populares da Bélgica.

Na conferência, participaram delegados de 16 países, e 21 membros e convidados de entidades amigas tiveram a oportunidade de dar seus contributos com a análise do papel da Otan no mundo e em suas regiões. Entre os convidados e amigos do CMP estavam representantes da Associação Internacional de Advogados Democráticos (IADL, na sigla em inglês), da Federação Mundial da Juventude Democrática, da Federação de Mulheres Gregas, da Coalizão Estadunidense Contra a Guerra (UNAC), e mais.

A presidenta do CMP, Socorro Gomes, fez um balanço detalhado do impacto, efeitos e objetivos do expansionismo da Otan, das suas políticas de provocação contra a Rússia e das ameaças crescentes impostas aos povos de todos os continentes. Contextualizou a formulação de tais políticas e destacou a acelerada militarização do planeta, com gastos exorbitantes no setor militar — sendo o dos EUA o recordista.

Sintomático, o presidente estadunidense Donald Trump tem sido citado na mídia internacional instando os restantes membros europeus da Otan a pagar o que se comprometeram a pagar para manter funcionando o que o CMP classifica de uma “máquina de guerra do imperialismo” a serviço da estratégia dos EUA. Os membros da Otan já haviam se comprometido, em cúpulas passadas, com o gasto de 2% dos seus PIBs nacionais no setor, apesar da crise estrutural e sistêmica para a qual a resposta dos líderes destes países tem sido a imposição do arrocho e o corte de direitos sociais e econômicos, lançando milhões de pessoas no desemprego, na pobreza e na miséria.

Leia a íntegra do discurso de Socorro, com uma análise abrangente e dados que refletem o escopo do investimento na guerra por parte da liderança imperialista, mas também com um importante apelo à mobilização e a reafirmação da centralidade da solidariedade entre os povos na luta anti-imperialista.

Os membros do CMP e convidados também pontuaram o impacto da Otan em suas regiões, desde a devastação provocada na antiga Iugoslávia, com os 78 dias de bombardeios, até a destruição da Líbia, do Afeganistão e do Iraque, a sua presença intensificada em bases ou massivos exercícios militares no Mar Mediterrâneo, no Mar Egeu e no Mar Negro, a instalação de sistemas de mísseis balísticos em diversos países da vizinhança russa, entre outros.

Num exemplo do expansionismo da “área de atuação da Otan”, que passa de um bloco militar regional para abertamente promover sua intervenção por todo o mundo após o fim da guerra fria, durante a conferência, o Cebrapaz focou no impacto da estratégia imperialista na América Latina e Caribe na atual conjuntura, apontando para a disseminação de bases militares não só dos EUA como também do Reino Unido e da França, que podem ser utilizadas pela Otan — por exemplo, nas Ilhas Malvinas argentinas, usurpadas pelo Reino Unido.

Leia também o contributo de Moara Crivelente, que aborda ainda os golpes de estado (Honduras, Paraguai, Brasil) e as tentativas (contra a Venezuela bolivariana, a Bolívia, o Equador) apoiadas direta ou indiretamente nessa estratégia e reafirma a denúncia dos exercícios militares conjuntos para os quais os EUA foram convidados, na Amazônia, em novembro.

Já no protesto organizado por entidades belgas, o foco incidiu sobre o rechaço à visita de Donald Trump, o que atraiu movimentos variados, da paz, de mulheres, imigrantes, defesa do ambiente, sindicatos, partidos políticos, entre outros, inclusive na denúncia ao racismo e à xenofobia. A Intal teve um momento para falar também da solidariedade internacional na luta contra o imperialismo.

Enquanto os líderes dos países membros da Otan preparavam-se para iniciar sua cúpula e deliberar ali sobre os rumos da humanidade — num ambiente de agravadas tensões e reiterados alertas para a possível escalada à guerra generalizada — as ruas centrais de Bruxelas foram tomadas por cartazes, bandeiras, música e denúncia da guerra, da Otan, do racismo, da xenofobia e de outros reflexos de uma política ainda assentada na opressão, na ameaça e na exploração.

Mas também se reafirmaram, nos eventos do CMP e nas ruas, o empenho e o compromisso com o reforço de uma mobilização ampla, de unidade e constante na resistência, por um mundo mais justo e de paz.