Bergson Gurjão: Vermelho homenageia militante que faria hoje 70 anos

Uma das principais lideranças comunistas do Ceará, símbolo da luta pela democracia, o guerrilheiro Bergson Gurjão Farias, se vivo, completaria 70 anos nesta quarta-feira (17). Para homenageá-lo e manter vivos seu exemplo e sua memória, o caderno cearense do Portal Vermelho ouviu familiares, amigos e contemporâneos. Todos foram unânimes: Bergson faz muita falta, principalmente neste momento delicado pelo qual o país passa.

Bergson Gurjão Farias - Desconhecido

Ielnia Johnson fez questão de registrar a data. Através de uma rede social, ela destacou a falta que o irmão faz. “Gostaria de estar celebrando com ele, muitos sobrinhos, sobrinhos-netos, deliciosos quitutes e muita alegria. Mas a história é diferente. Estou celebrando com um menino de 21 anos que, na minha memória, terá sempre um sorriso aberto, um coração idealista e cheio de vontade de lutar por um Brasil melhor. Ele será sempre o nosso Grandão, que gostava de dançar, cantar Noel, fazer serenatas e enfurecer as irmãs com a mania de nos cheirar”, recorda.

“Muita saudade e uma falta imensa”. Foram estas as palavras usadas pelo amigo Mariano Freitas ao recordar o colega dos anos passados. “Todos daquela década já chegamos à casa dos 70. Naquela época éramos meninos inteligentes, destemidos e sonhadores. Se fosse vivo, certamente ele estaria na linha de frente nesta luta que continua sendo por mudança da política e da sociedade brasileira. Recentemente tivemos certo avanço, mas não mudamos a cabeça das pessoas. Sem dúvidas, ele estaria empenhado nesta mudança, pois Bergson sempre via a essência do problema. Nossa sociedade está doente. Ele estaria preocupado e teria insurgido contra esta ideia deste país em que vemos agora”. O médico acrescentou ainda que, ao saber da data marcante em relação ao amigo, ficou comovido com sua ausência. “Fiquei muito emocionado e senti muita saudade. Bergson deixou uma lacuna dentro da esquerda do Ceará”, ratifica.

O advogado Benedito Bizerril considera o amigo um “herói da resistência contra a ditadura e em defesa da democracia”. “Bergson foi um grande lutador naquele momento em que estudantes se colocaram na linha de frente na luta pela liberdade, doando-se até as últimas consquências e tornando-se um símbolo para todos os que defendem um Brasil melhor, de progresso, de direitos sociais avançados para o povo, de liberdade, soberania e democracia. Nos dias de hoje, enfrentamos uma situação difícil, de ameaças a tudo o que ele defendia, ele faz muita falta. Bergson certamente estaria nesta luta com todo empenho e seria de muita importância se estivesse aqui. Apesar disso, sua ausência física é menor que seu exemplo, que permanece entre nós, que fomos seus companheiros de luta naquele momento, e também aos jovens, que o admiram e nele se espelham. Nesta data, homenageamos e renovamos nossas convicções de continuamos sua luta, que não terminou”, enaltece.

Mais sobre Bergson Gurjão

Bergson era estudante de Química na Universidade Federal do Ceará (UFC), vice-presidente do DCE eleito em 1968. Foi preso no Congresso da UNE em Ibiúna e, em 1968, excluído da universidade com base no Decreto-lei 477.

Em 1968, no Ceará, foi gravemente ferido na cabeça quando participava de manifestação estudantil na Praça José de Alencar. Em 1969, foi residir na região de Caianos, onde continuou suas atividades políticas. Em 08 de maio de 1972, foi ferido e morto em combate nas selvas do Araguaia.

Em julho de 2009 a Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, confirmou que a ossada catalogada como Xambioá 2, encontrada na região do Araguaia, pertencia a Bergson.

Quase quatro décadas após sua morte, finalmente familiares e amigos puderam trazer de volta o corpo do cearense assassinado em combate durante a Guerrilha do Araguaia. O sepultamento, com honras de Estado, aconteceu no dia 6 de outubro de 2009.