Lava Jato transformou-se em ameaça quando assumiu caráter partidário

"O Poder Judiciário e a Polícia Federal estão saindo do controle da sociedade. Transformaram-se em poder perigoso para os destinos da democracia e do desenvolvimento brasileiro", a afirmação é do ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, em artigo publicado nesta quinta-feira (30), na Folha de S. Paulo, em que critica duramente os rumos da Lava Jato, do Judiciário e da Polícia Federal.

Bresser-Pereira

"Não destruamos o Brasil. A moralidade é um valor maior, mas não o único, e não pode ser assegurada a qualquer custo", enfatiza ele, destacando que a Lava Jato "começou moralizando o país, mas em seguida desrespeitou direitos básicos".

"Está destruindo nossas grandes empresas de construção", enfatiza Bresser-Pereira. "Sim, queremos mais honestidade na condução da vida empresarial e da vida pública, mas os padrões éticos são uma construção social, como também o são a construção da nação e do Estado", reforça.

Segundo ele, a Operação Lava Jato representou uma conquista enquanto processava e punia políticos, lobistas e funcionários envolvidos diretamente em propinas. "Transformou-se depois em ameaça quando assumiu caráter partidário. Tornou-se ameaça ainda maior quando revelou que as propinas não eram relacionadas apenas ao PT", disse ele, que foi um dos fundadores do PSDB.

"Houve corrupção na Petrobras? As práticas corruptas são antigas nas obras públicas? Valeu a pena encontrar os culpados e puni-los? Sem dúvida. Mas faz sentido usar da coerção para extrair delações e "vazar" imediatamente seu conteúdo para a imprensa? Faz sentido não distinguir o caixa dois, já parte dos usos e costumes do financiamento de campanhas no Brasil, das propinas (oferecer obras ou emendas legislativas em troca de dinheiro)? Vale a pena desmoralizar todos os políticos brasileiros? Vale a pena realizar uma cruzada contra as empresas, ao invés de apressar e simplificar os acordos de leniência? Definitivamente, não vale", defende.