Trabalhadoras do MST ocupam unidade da Vale em Cubatão

 Mobilizadas contra a reforma da Previdência, mulheres denunciam dívida de R$ 276 milhões da empresa com o INSS e crimes ambientais cometidos depois de sua privatização.

vale protesto

 Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam na manhã de hoje (7) uma unidade da empresa Vale, em Cubatão, região da Baixada Santista, em São Paulo. As mais de 1.500 mulheres que participaram do ato estão mobilizadas contra a reforma da Previdência, proposta pelo governo Michel Temer (PMDB), e planejaram a ação em resposta à dívida da Vale junto ao INSS. A empresa deve R$ 276 milhões ao órgão da União.

Um dos principais argumentos do governo para promover a reforma na Previdência é o acumulo da dívida do INSS, entretanto, como explica Nívia Silva, dirigente nacional do MST, as empresas devedoras não são cobradas. “As dívidas dessas empresas somam R$ 426 bilhões, quatro vezes o déficit afirmado pelo governo. Somente 3% das companhias respondem por mais de 63% da dívida previdenciária”, afirma. Entre as maiores devedoras, destacam-se, além da Vale, Mafrig, JBS e Bradesco.

'Reforma excluirá da Previdência boa parte da população rural, especialmente as mulheres'
“A morosidade da Justiça, a complexidade da legislação tributária brasileira e os programas de parcelamento do governo são um dos principais fatores que explicam a alta dívida previdenciária no país”, continua Nívia. Além da suntuosa dívida com o INSS, a Vale lidera a lista de maiores devedores em termos gerais da União. O valor total supera os R$ 40 bilhões, sendo composto de créditos tributários com prazo esgotado para pagamento.

"Não é um crime dever em nosso país, a legislação não é rígida nesse aspecto e grandes grupos empresariais se beneficiam disso, questionam valores na Justiça e protelam a vida inteira fazendo com que o trabalhador arque com os prejuízos”, diz Esther Hoffmann, da direção nacional do MST Minas Gerais. Em nota, o MST afirma que a Vale se transformou em “um câncer para o Brasil”.

As trabalhadoras lembraram, durante o ato, do desastre ambiental em Mariana (MG), no dia 5 de novembro de 2015. Na ocasião, o rompimento de duas barragens da empresa Samarco, sob gestão da Vale e da australiana BHP Billiton, foi responsável pela morte de 19 pessoas, além de centenas de desabrigados. As consequências da tragédia são sentidas até hoje, em especial na bacia do Rio Doce, afetada pelos detritos de rejeitos lançados pelas barragens. Também há indícios de que o surto de febre amarela que atinge o país tenha raízes no desastre de responsabilidade das empresas citadas.

Mesmo o local ocupado pelas trabalhadoras, às margens da Rodovia Cônego Domênico Rangoni, já sediou um acidente da Vale. A unidade de fertilizantes foi atingida por um incêndio em janeiro deste ano. “O motivo foi um vazamento de nitrato de amônio e ácido sulfúrico na atmosfera, produtos considerados altamente tóxicos e prejudiciais para o ser humano e o meio ambiente”, afirma o MST. “A Vale também é responsável por inúmeras catástrofes ambientais no mundo. Ela integra o modelo econômico exportador de minérios, soja, cana, gado, eucalipto, entre outros. Enquanto poucos enriquecem com o fruto do trabalho, aos trabalhadores e trabalhadoras resta a precarização, o trabalho inseguro, o desemprego, alimentos cheio de agrotóxicos e doenças causadas por estes agentes do capital”, completa o movimento.