As mídias sociais e o debate de ideias entre as forças de esquerda

As/os mais conservadoras/es rechaçam o uso das mídias sociais, mas o fato é que é que independentemente da sua reprovação, elas têm sido amplamente utilizadas para debater política e para dialogar com a sociedade. Trata-se, portanto, não de proibir o seu uso ou manter-se alheia/o, mas de conhecer suas potencialidades e riscos e usá-las de forma consciente, planejada e progressista.

Penélope Toledo*

midias redes sociais

As mídias sociais são as páginas de construção colaborativa, em que qualquer pessoa pode publicar e compartilhar conteúdos, como os fóruns, blogs, wikis, páginas de compartilhamento de vídeos e de fotos, além das redes sociais, que são os sites de relacionamento (Facebook, Twitter; Linkedin, Instagram, etc). Estas são as mais utilizadas para o debate político e merecem atenção e cuidado.

Horizontalidade na produção de conteúdos

Uma das principais características das mídias sociais e suas redes é a horizontalidade, que permite que todas/os possam expor ideias e debatê-las, dando voz às pessoas, ampliando as discussões políticas, criando mais um canal de diálogo com a sociedade e burlando o monopólio dos mediadores culturais tradicionais na formação da opinião pública e da circulação de informação.

Mas é preciso cuidado com o que se fala, pois nestas mídias, o impacto é imediato. Mesmo que a publicação seja deletada posteriormente, já terá sido visualizada, copiada, espalhada pela rede.

Além disto, é fundamental diferenciar as ideias privadas (pessoais) das ideias coletivas (partido, coletivo, organização, entidade, etc.) e ter clareza que as mídias sociais podem ser canais de discussão, mas nunca serem vistas ou tratadas como fóruns deliberativos.

Grande alcance

Outra boa característica que pode ser apropriada pelas forças de esquerda é o grande alcance das mídias sociais e suas redes, que viabilizam falar com muita gente a baixo custo. Devido à sua viralidade, os conteúdos são compartilhados e multiplicados, atingindo, inclusive, pessoas desconhecidas de quem publicou.

Assim, fala-se com mais gente do que nas atividades presenciais, podendo alcançar quem jamais pararia nas ruas para ouvir determinadas ideias.

Porém, a viralidade tem seus perigos. Pode-se espalhar conteúdos equivocados e conceitos distorcidos, e isto ter grande alcance. Além disso, comumente as pessoas perdem a dimensão de quantas/os terão acesso à sua publicação, se expondo desnecessariamente e perdendo sua privacidade. É preciso cuidado na seleção e no tratamento dado às informações que se vai publicar.

Interatividade

As redes sociais conectam pessoas, de forma a aproximar quem pensa e busca as mesmas coisas e construir laços. Assim, facilita o surgimento e/ou a organização de grupos e movimentos que podem se transportar ao meio offline.

Também, graças à relativização das noções de tempo e espaço, possibilitam que pessoas em diferentes locais físicos e horários/dias interajam entre si, ampliando as trocas de informações e conhecimentos e, mesmo, propiciando a realização de reuniões virtuais e a agilidade na organização de atividades.

Não raro, entretanto, o debate cede espaço às brigas e atitudes excessivas, como ofensas, provocações e intolerância às divergências, esvaziando todo o conteúdo político. A ausência dos elementos da comunicação presencial, como entonação e expressão facial, pode gerar erros de interpretação, assim como muitas/os se escondem por detrás da virtualidade para desrespeitar as ideias e/ou as pessoas.

Multimidalidade

À convergência em uma mesma plataforma de conteúdos de natureza distinta, como vídeos, áudios, imagens, animações, textos, etc., dá-se o nome de multimiadialidade. Ela proporciona a distribuição do conteúdo em diferentes formatos, de modo que as forças de esquerda consigam falar com o público de diferentes tipos de mídia.

Há que se tomar cuidado com o excesso de conteúdos, pois a possibilidade de veiculação das ideias em diferentes plataformas gera um número superior de informações.

A comunicação deve ser feita levando-se em consideração o desinteresse coletivo pela política e que, portanto, bombardear as pessoas com publicações sobre o tema pode gerar rejeição e bloqueio. Se as/os militantes de esquerda forem vistas/os como chatas/os, não há diálogo.

As/os comunistas e as mídias sociais

As mídias sociais e suas redes não boas e nem más, são seres inanimados e podem ser usadas tanto para disseminar as ideias progressistas e proporcionar debates, quanto para ser palco de brigas e preconceitos. As pessoas é que definem o seu uso.

Também não existe dicotomia entre os debates virtuais e os presenciais, pois não são excludentes, ao contrário, são complementares. O uso destas interfaces não se propõe a substituir a militância offline e sim, oferecer novos canais de diálogo e circulação de ideias.

É imprescindível que as forças de esquerda se apropriem do desenvolvimento científico e tecnológico, se aprimorem, reinventem suas práticas comunicacionais. Conhecimento é poder.