Boardwalk Empire, uma produção pop sobre a ambiguidade humana

O império do contrabando, ou Boardwalk Empire, é um programa feito com capricho e preciosismo.

Por Carolina Maria Ruy*

Boardwalk Empire - Divulgação

A caracterização dos anos de 1920 tem glamour e uma atmosfera de era de ouro de sei lá o que. O ar sofisticado e blasé do personagem principal, Enoch Thompson, Nucky, compara-se ao estilo cool de Don Draper, de Mad Man. Homem de negócios, implacável quando necessário, mas racional, fino e até gentil, na maior parte das vezes, ele foi inspirado em Enoch Johnson, um mafioso que ganhava com os jogos de azar, prostituição e contrabando de bebidas, em Atlantic City.

A história, que começa com o início da Lei Seca, se passa no período entreguerras, quando os Estados Unidos da América se firmava como a grande potência mundial. Acompanhá-la requer um mínimo de conhecimento sobre a primeira metade do século 20.

Centro do enredo, o contrabando de bebidas está presente até na abertura da série, que mostra garrafas trazidas pelas ondas aos pés de Nucky, vestido com um terno preto e chapéu, olhando para o mar, como na pintura de René Magritte.

Além de Nucky, interpretado pelo impagável Steve Buscemi, vale destacar alguns personagens muito interessantes, como: Nelson Van Alden, um obstinado agente da Lei que, ao lado de sua "pudica" mulher, se regozija ao apreender até o mais inocente garçom que serve bebidas ilegais em restaurantes; o atormentado Jimmy Darmody, refém das loucuras da mãe, Gilliam, e traumatizado pelos horrores que viveu na Primeira Guerra Mundial; o melancólico e romântico Richard Harrow, que vive uma existência quase platônica, sonhando com o que poderia ter se tornado se não tivesse perdido metade do rosto na Guerra e, claro, Al Capone, um jovem gordinho bonachão que amadurece e aprende a ser gangster, seguindo os passos e ganhando a confiança do chefe, Johnny Torrio.

No universo das séries Boardwalk é uma produção top. Uma das melhores. Como em Sopranos e, em certa medida, Breaking Bad, ela humaniza o criminoso, responsabiliza seu contexto e problematiza o sentido de suas ações. Talvez seja isso que, como uma válvula de escape, nos prenda em frente à tela. A multidimensionalidade e a ambiguidade humanas.

Boardwalk Empire

EUA, 2010 a 2014
Martin Scorsese e Terence Winter
Com Steve Buscemi, Michael Pitt, Kelly Macdonald, Michael Shannon, Shea Whigham, Vincent Piazza, Paz de la Huerta

Assista ao trailer: