Quem é o candidato preferido de Trump no Equador?

As próximas eleições presidenciais no Equador, em 19 de fevereiro, são muito relevantes para a encruzilhada que vive a América Latina. Nos permitirá ver se continuam “as mudanças” de retorno aos nãos 90, ou se, ao contrário, os méritos próprios, junto aos péssimos resultados das gestões de Maurício Macri, na Argentina e Michel Temer, no Brasil, impulsionam a continuidade do ciclo progressista no continente.

Por Guillermo Oglietti*

Candidatos à presidência do Equador - Divulgação

Também é muito importante porque será a primeira eleição presidencial no mundo depois da posse de Donald Trump nos Estados Unidos e poderemos ter uma primeira impressão sobre como a cidadania latino-americana responderá a isso.

A mudança mais significativa, sem dúvida, será experimentada pelas elites. Estão atravessando uma crise psicológica de identidade, que podemos entender fazendo uma analogia familiar: para nossa burguesia os EUA sempre foram a mãe protetora que lhes educava com o exemplo, enquanto o presidente norte-americano era o pai autoritário cujas indicações obedeciam sem titubear sob o padrão moral do deus globalização. Pois bem, com Trump na presidência, estão experimentando o mesmo que uma criança cuja mãe se casou com um padrasto odioso (racismo), que professa uma antiga religião (protecionismo), os acusa de estar comendo muito (aproveitando-se dos EUA), e os expulsa de casa (perseguição aos imigrantes), e além de tudo lhes pede para contribuir com as despesas domésticas (o muro). Nossas elites perderam o norte e já não contam nem com o pai, nem com a mãe, nem com o deus globalização para lhes dar um rumo.

Ainda é cedo demais para que os equatorianos incorporem em suas preferenciais eleitorais o efeito Trump, e o tema nem bem apareceu no debate público, apesar de sua importância. Por isso, é mais necessário que nunca levar em consideração a opinião dos cidadãos para que decidam qual é o líder que o Equador precisa nestas circunstâncias. A clareza dos eleitores permitirá ao país compensar a tradicional vacilação da burguesia nestes momentos.

Há basicamente dois modelos em disputa no Equador: o modelo progressista-humanista de Lenin Moreno, que continua a transformação iniciada por Rafael Correa em 2007 e o modelo conservador neoliberal representando pela social-cristã Cynthia Viteri, e o pelo banqueiro Guillermo Lasso. Esta dupla está em divergência pela circunstância eleitoral, já que competem para conquistar o 2º turno em 19 de fevereiro, mas estão unidos pelas preferências ideológicas e econômicas que compartilham sem distinção: ambos sustentam no campo econômico a proposta neoliberal e, no político o rechaço visceral à tudo que representa a Revolução Cidadã (Viteri chegou a vangloriar-se de ser a única que não aprovou nenhuma das políticas públicas durante todos estes anos, nem sequer à sobre o fechamento da base dos EUA em território equatoriano).

Ambos os candidatos da direita representam o establishment, Lasso – o Macri do Equandor – , conta com o apoio do establishment doméstico, enquanto Viteri – a Hillary equatoriana – tem sido a escolhida pelo establishment internacional como a mudança que se compromete a agredir a Venezuela e tirar o Equador da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América).

Mas nisso chegou Trump!

Como são muitas as incertezas de Trump apresenta, é conveniente concentrar-se nas certezas que temos. Uma delas é que se produzirão mudanças na globalização. Não sabemos ainda se vai morrer, como disse Álvaro García Linera [vice-presidente da Bolívia], ou se só vai ficar ferida, regenerando-se e transformando-se, mas estamos seguros de que haverá mudanças e estas mudanças tem deixado em maus lençóis os candidatos neoliberais que só apostam no princípio do livre comércio. Estão chegando novas épocas, de regeneração, de jogos de estratégia internacional, de aproveitar a multipolaridade e de fortalecer a negociação com a unidade regional.

Os equatorianos vão eleger o líder que conduzirá esta renegociação e podem optar pelo candidato que propõe fazê-lo desde os princípios fundamentais da Alianza Pais (Pátria Altiva e Soberana), ou os de Lasso e Viteri, que querem voltar ao modelo de bom aluno do FMI aplicado nos anos 90, ou seja, vassalagem dos Estados Unidos, rechaço ao apoio multipolar – entre eles o da China – e isolamento dos vizinhos latino-americanos. Efetivamente, a promessa de tirar o Equador da Alba, justo neste momento, quando mais precisamos fortalecer o comércio na região e nos unir para negociar melhor, é um monumento à estupidez!

No tabuleiro da política e da economia internacional o Equador é um jogador pequeno. Lenín Moreno poderá acomodar suas peças melhor ou pior, mas propõe jogar no tabuleiro imposto pela realidade, em contrapartida, Viteri e Lasso seguem jogando as damas, sem se dar conta de que o tabuleiro mudou. Não sabemos qual será o líder que os equatorianos vão eleger, mas temos certeza de que Trump prefere não ter Lenin Moreno à frente da mesa de negociações.