Claudio Machado: O caos instalado no Espírito Santo

No sábado (4) os capixabas amanheceram sem a Polícia Militar nas ruas. Mas diferentemente do que o governo do estado tenta fazer crer, não é a corporação que lidera o movimento, mas os familiares dos policiais, que passaram a se concentrar na frente dos portões de todos os quarteis, impedindo a saída dos efetivos, das viaturas e cavalaria. Se ninguém sai, também ninguém entra. O serviço de patrulhamento e atendimento de ocorrências está totalmente paralisado.  

Por Claudio Machado*

Incêndio de ônibus

Logo em seguida, no domingo (4), familiares dos integrantes do Corpo de Bombeiros Militar também aderiram ao protesto, concentrando-se na frente dos quarteis da corporação.

Esposas e mães, de policiais e bombeiros militares acampados reivindicam melhores salários e condições de trabalho, denunciando o pouco caso do governo estadual, que nem sequer, atende ao apelo destas corporações para o diálogo. O governo de Paulo Hertung (PMDB) segue sua trajetória de arrocho salarial generalizado, atingindo  todo o funcionalismo público, impondo um duro ajuste fiscal, ao molde do que pratica o governo federal, onde as principais vítimas são os trabalhadores.

Com cartazes com dizeres: “O pior salário do país”, “Não suportamos tanto descaso”, “A polícia que mais diminuiu os índices de homicídios no Brasil com o pior salário” “Nós exigimos respeito!” – As mulheres não se intimidam e se mantem firmes em frente aos portões das companhias e batalhões.

O último reajuste recebido pelos policiais militares, bombeiros e demais setores do funcionalismo ocorreu em 2014, ainda no governo anterior. O atual governo Hartung logo ao assumir impôs um corte linear no custeio de todos os setores, da ordem de 20%, diminuindo drasticamente o já precário serviço público estadual.

Segundo elas, a situação provocada pelo arrocho salarial se reflete no dia a dia de suas famílias, com o acúmulo de dívidas e dispensas vazias. Além, é claro, do estresse que se abate sobre o policial. Além de ter que conviver com as consequências causadas por salários muito aquém de suas necessidades, ainda enfrentam precárias condições de trabalho pelo corte draconiano no custeio imposto pelo atual governo.  As consequências são sentidas na manutenção das viaturas,  munições e armamentos inadequados, capacitações, entre outros itens fundamentais para uma prestação de serviços de segurança pública eficiente.

Cansadas desta situação e cientes do impedimento legal de militares organizarem movimentos reivindicatórios, as mulheres resolveram agir e, com coragem, tomaram em suas mãos a liderança e o comando desse movimento reivindicatório.

A Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Estado do Espírito Santo, embora não participe efetivamente do movimento reconhece que “estas mulheres resolveram falar e elas representam a voz de todos os policiais militares neste momento. Elas são o grito dos policiais que reduzem os índices de homicídio e, em troca, recebem o pior salário do Brasil”.

Enquanto isso, nas ruas se estabeleceu o caos. No sábado e no domingo os capixabas viram suas cidades – principalmente a Região Metropolitana de Vitória e as maiores do interior – serem tomadas por assaltos, arrombamentos e assassinatos. Lojas, shoppings e até indústrias sofreram assaltos e depredações. Um ônibus foi incendiado e há notícia – checada por intermédio de fonte segura – de que até roubo de dinamite foi praticado em uma pedreira localizada na região metropolitana.

A segunda-feira chegou dominada por um clima de insegurança e medo. A Assembleia Legislativa estadual suspendeu suas atividades, assim como o Tribunal de Justiça e a Justiça do Trabalho. As prefeituras da Região Metropolitana suspenderam  as atividades nas escolas municipais. Da mesma forma a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e outras instituições de ensino superior também paralisaram suas atividades, assim como inúmeros estabelecimentos comerciais não abriram suas portas, receando o pior.

Enquanto isso o governo do estado trata de forma autoritária a situação, negando-se ar diálogar com  policiais e bombeiros, única forma de dar um tratamento democrático e eficaz a ao grave problema. Prefere o caminho da truculência e insensatez, solicitando o apoio da Força Nacional, das Forças Armadas e tentando criminalizar o movimento liderado pelas mulheres e mães de policiais e bombeiros militares. O governo  solicitou e conseguiu,,  de forma liminar, que a justiça declarasse a ilegalidade do que qualificam como “greve velada”, imputando responsabilidade à Associação de Cabos e Soldados da Policia Militar e Bombeiros Militares, impondo-lhe multa diária de 100 mil reais e, ao mesmo tempo, determinando aos familiares que “desobstruam os acessos das unidades da PMES e CBMES de maneira a manter o regular funcionamento da segurança pública.”

Não ha, até o momento, qualquer sinalização de que as esposas e mães que ocupam os portões dos quarteis estejam dispostas a recuarem. Outros setores do funcionalismo já falam em aderir ao movimento reivindicatório.

Lutar por melhores salários e condições de trabalho é legítimo, mesmo para militares, e não será com autoritarismo e truculência que essa situação poderá chegar a bom termo.