Escândalos de corrupção podem mudar rumos da eleição francesa

Escândalos de corrupção envolvendo os dois principais candidatos à presidência da França, Marine Le Pen e François Fillon, podem mudar os rumos das eleições presidenciais marcadas para abril e maio deste ano.

François Fillon

Uma pesquisa de intenção de voto divulgada nesta quarta-feira (01) aponta que Fillon, candidato pelo partido Os Republicanos e que aparecia como o favorito ao Palácio do Eliseu na semana passada, não conseguiria chegar ao segundo turno.

A sondagem, do Instituto Elabe para o jornal Les Echos, indica um leve aumento de apoio a Le Pen, candidata da Frente Nacional, mas aponta o candidato independente Emmanuel Macron, de centro-esquerda, como o possível ganhador das eleições presidenciais francesas.

Segundo a pesquisa, Macron manteve de 22% a 23% das intenções de voto para o primeiro turno. Fillon perdeu entre 5 e 6 pontos percentuais, ficando com 19% a 20%. Apesar de envolvida em escândalo de desvio, Le Pen subiu três pontos percentuais, para 26% a 27%. No entanto, em hipotéticas disputas na segunda rodada, Le Pen seria derrotada tanto por Macron quanto por Fillon.

"Operação de calúnia sem precedentes"

O ex-primeiro-ministro Fillon tem perdido apoio após a revista Le Canard Echaîné denunciar nos últimos dias que ele contratou dois de seus filhos como assistentes parlamentares quando era deputado na Assembleia Nacional, e também sua mulher, que nunca pisou no Legislativo francês.

Penelope Fillon teria recebido também 900 mil euros, sem trabalhar, pela função de colaboradora literária na revista La Revue dês Deux Limpes, uma das publicações mais antigas da França ligada à centro-direita. O contrato diz que ela recebeu 5 mil euros por mês entre maio de 2012 e dezembro de 2013.

Agentes fizeram buscas no escritório de Fillon para recolher documentos que comprovem que Penelope trabalhou como assistente parlamentar do marido e depois no gabinete do deputado Marc Joulaud, que assumiu a cadeira de Fillon. Ela teria embolsado milhares de euros sem trabalhar por um período de oito anos, denuncia a revista.

O coordenador da campanha presidencial de Fillon, Bruno Retailleau, se disse convencido de que não haverá acusação e pediu que a investigação seja feita rapidamente, levando em consideração a proximidade das eleições. O primeiro turno está marcado para o dia 23 de abril e o segundo, para 7 de maio.

Fillon disse que não tem intenção de abandonar a corrida presidencial. O conservador afirmou que só vai abandonar a candidatura se for formalmente acusado.

O candidato disse ser vítima de uma operação caluniosa "sem precedentes" nas últimas décadas, mas garantiu que está "sereno e confiante". "É uma operação de calúnia muito profissional, de uma tremenda amplitude, sem precedentes na Quinta República", afirmou.

Le Pen e desvio de recursos

Nesta quarta-feira, o Parlamento Europeu decidiu cortar pela metade o salário da líder da extrema-direita francesa por desvio de recursos. Eurodeputada e candidata à presidência da França, Le Pen tinha até a meia-noite de terça-feira para restituir 340 mil euros, mas se negou, argumentando que essa é uma estratégia da oposição para prejudicá-la.

Além da redução salarial, a Comissão de Finanças do Parlamento Europeu vai restringir a partir de março os recursos repassados à líder da Frente Nacional para despesas gerais e gastos com diárias.

Le Pen teria usado os recursos para pagar dois funcionários do partido que não atuam em funções relacionadas ao Parlamento Europeu. Cerca de 300 mil euros teriam sido desviados para pagar a chefe de gabinete Catherine Grisset, que trabalha para a FN em Nanterre, na França. Outros 40 mil teriam sido destinados para o pagamento dos salários de Thierry Leger, guarda-costas de Le Pen.

De acordo com o artigo 62 do Parlamento Europeu, a verba para a contratação de assessores só pode ser utilizada para pagar o pessoal de apoio ao trabalho europarlamentar e não para custear despesas dos partidos nos países de origem.

Le Pen é investigada desde março de 2015 pelo Escritório Antifraude Europeu (Olaf) por mau uso de recursos na contratação de funcionários que não atuariam no Parlamento Europeu.