PF sabia de ameaças e massacre em presídio poderia ser evitado

O massacre dos presos no Amazonas poderia ter sido evitado. Por meio de escutas telefônicas, a Polícia Federal sabia há mais de um ano da intenção da facção criminosa Família do Norte (FDN) de matar “todos os membros” do grupo paulista PCC em presídios de Manaus. As informações constam em um relatório da instituição.

Temer e Alexandre de Moraes - Agência Brasil/Antonio Cruz

O mesmo documento foi usado como base para a Operação La Muralla, em novembro de 2015, quando foram cumpridos 127 mandados de prisão. Apesar do documento, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, responsável pela PF, admitiu apenas que a instituição tinha conhecimento de um plano de fuga.

As informações são de O Globo.

O plano dos criminosos da facção amazonense Família do Norte (associada ao grupo carioca Comando Vermelho) de eliminar presos supostamente ligados à facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) era de conhecimento da Polícia Federal do Amazonas desde outubro de 2015. Somente na segunda-feira à tarde, depois do massacre, o Ministério da Justiça, ao qual a PF está subordinada, anunciou a liberação de recursos para a transferência de detentos para presídios federais.

As informações de que as mortes poderiam ocorrer constam em um relatório de mais de 600 páginas, com milhares de mensagens e chamadas telefônicas de criminosos interceptadas pelos policiais federais. O documento tem trechos de conversas do chamado núcleo central da facção amazonense, em que é revelado o propósito de eliminar “todos os membros da facção paulista que se encontravam presos em Manaus”.

No dia 19 de outubro de 2015, todo o material foi encaminhado à 2ª Vara Federal do Amazonas pelo delegado Rafael Machado Caldeira, da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Drcor), da PF do Amazonas. O material foi usado como base para a deflagração da Operação La Muralla, no final de 2015, levando à denúncia e à expedição de 127 mandados de prisão. Todos acusados de tráfico de drogas, armas, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, assassinatos e torturas.

Negligência e silêncio 

Em silêncio até agora sobre o massacre no presídio Anísio Jobim, em Manaus, que deixou 56 mortos entre domingo e segunda-feira (2), o presidente Michel Temer fará nesta quinta-feira (5) uma reunião ministerial para discutir a situação das prisões no país. O massacre é o segundo maior em presídios na história do Brasil. Enquanto o papa Francisco manifestou tristeza com as mortes, o governador do Amazonas, José Melo (PROS), disse que não há nenhum “santo” entre as vítimas da chacina.

O objetivo é colocar a tese de que os crimes não ocorreram por omissão do governo federal. Temer pretendia falar sobre o caso depois que o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, fizesse um diagnóstico. Na quarta (3), porém, ele mudou de ideia. O Planalto avaliou que o massacre é um problema do estado do Amazonas e que a manifestação do governo foi feita com a ação in loco de Moraes, que viajou à capital.

Entenda o caso 

Uma rebelião no Complexo Penitenciária Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, deixou 56 detentos mortos. O levante na unidade começou na tarde de domingo (1), e a situação foi controlada apenas durante a manhã de segunda-feira, após pouco mais de 17 horas. O secretário de Segurança Pública amazonense, Sérgio Fontes, falou que se trata de um “massacre” provocado pela briga entre as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC), originária de São Paulo, e a Família do Norte, do Amazonas.