Defesa da educação física

Ligo a televisão e vejo uma propaganda do Governo Federal sobre a reforma do ensino médio. Uma professora bonita com um sorriso no rosto anuncia que com as mudanças os alunos vão ter um currículo que se adeque às suas aspirações profissionais sem prejuízo de matérias básicas, tipo Português e Matemática.

Por Sérgio Redes, no Jornal O Povo

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Recuo 60 anos no tempo e lembro que todos falavam da importância dessas duas disciplinas. Tinha dez anos e toda vez que dava uma fugida para jogar bola num terreno baldio na volta era advertido aos gritos. “Larga essa bola, menino! Isso não dá futuro para ninguém”.

E tome Português e Matemática! Fazia sentido porque o teste do quociente intelectual (Q.I) media a inteligência verbal e lógica. A percepção de outros tipos de inteligência veio com o passar do tempo. A inteligência motora surge com a teoria das inteligências múltiplas de Howard Garner em 1983.

A inteligência motora encontra na Educação Física — que trata da cultura corporal e tem no seu conteúdo as ginásticas, os jogos, os esportes, as lutas e as danças — a sistematização necessária que permite o desenvolvimento do movimento humano numa evolução progressiva dos alunos.

O retrocesso fica por conta do Ministério de Educação, que numa onda contrária ao movimento de uma sociedade cada vez mais estimulada com a prática esportiva, envia para o Congresso a medida provisória 746/2016 que torna a Educação Física facultativa no ensino médio.

A medida também é anticonstitucional. Ela fere o art. 217 da Constituição, que reza ser dever do Estado fomentar as práticas desportivas formais e não formais. As formais reguladas por normas nacionais e internacionais e as não formais pela liberdade lúdica dos seus praticantes.

É importante ressaltar que o apoio ao esporte contemplado na Lei Pelé também sinaliza que os recursos públicos devem ser gastos prioritariamente com a prática esportiva nas escolas visando o desenvolvimento e a formação do cidadão. Daí o conceito do Desporto Educacional.

Como diz o professor João Batista Freire: “O sujeito que realiza a ação, ao fazê-la descreve com seus gestos sua experiência humana. Trata-se de uma descrição não verbal, extremamente complexa, expressão de seu conhecimento, de sua cultura e de sua história”. A escola é a base. Não basta Português e Matemática.