Jorge Panzera: O lugar da esperança

O ano de 2016 vai chegando ao fim, é comum fazermos balanços e retrospectivas. E também de pensar as próximas caminhadas, os novos desafios. Este ano foi de notícias terríveis, tragédias e retrocessos. Um ano marcado por um golpe e pelo avanço de pensamentos atrasados, conservadores e contra os direitos.

Panzera - Arquivo

Mas batalhas que virão são as mais importantes. Vivemos um tempo de muitas dificuldades, de pouca luz e de uma onda de atraso e retrocessos imensos. Nosso esforço é ir além do reativo, da denúncia do imediato. Precisamos de uma esperança ressignificada, pautada pela incansável busca pelo horizonte inatingível, pela utopia transformadora.

Não que precisemos abdicar da denúncia das barbáries que nos indignam, ela é sempre necessária. Mas também devemos ter em mente que a luta pelo aqui e agora não tem muito significado. O aqui e agora teremos pouca chance de mudar. O que podemos mudar é o futuro e para isso é importante ver a vida, e a luta, em perspectiva, num processo permanente infinito.

O que move a humanidade e que pode mobilizar multidões é a esperança, o futuro, o novo caminhar. E aqui compreendendo a esperança do verbo esperançar e não esperar.

Para a construção dessa esperança ressignificada, dessa nova caminhada em busca do horizonte inatingível, é preciso ser para além de reativo, de responder os dilemas do aqui e agora. É necessário ser reflexivo e não adianta pressa, é preciso vagar, no sentido de tempo. Até por que essa nova esperança precisa ser fruto da reflexão ação e da ação reflexão de milhões.

Nessa hora as certezas precisam ser deixadas de lado. Refletir com certezas, com medidas prontas, com esquemas fechados, não é refletir, é repetir. A construção de um mundo de tolerância, de respeito as diferenças, necessita de vagar, reflexão, dúvidas. E principalmente em uma situação complexa como vivemos.

Não podemos nos bastar na satisfação pessoal, no regozijo. Não adianta a verborragia, para mobilizar e envolver milhões, há a necessidade de conquistar, de convencer e, principalmente, envolver na construção dessa nova esperança. Para isso é bom lembrar que o que mais mobiliza é o futuro e não o passado. Até por que o passado não pode ser modificado.

Reflexão ao invés da pura reação; horizonte inatingível ao invés do aqui agora; mais construção do futuro que denúncia do passado; esperança ao invés do desânimo. Mais dúvidas e menos certezas.