Referendo italiano é um golpe duro contra a neoliberal União Europeia

O momento é grave para a Europa. Concretamente a Europa perde terreno, perde espaço, sobretudo, para a Rússia, a China e para a Ásia em geral.

Por José Luis Del Roio*

José Luís del Roio

No dia 4 de dezembro realizou-se um referendo na Itália e os resultados revelaram mais um golpe duro contra a democracia de Bruxelas, isto quer dizer contra a União Europeia. O governo da União Europeia tal como ele é constituído, é um governo neoliberal ao extremo, intervencionista contra os direitos sociais. E hoje existe uma verdadeira rebelião e medo nas populações europeias, sobretudo entre os mais pobres, do que pode vir pela frente. Porque eles não encontram, essa população não encontra frestas, meios de combater essa entidade fantasma que se chama governo da União Europeia. E cada vez que teve a oportunidade, nos últimos dois anos, tem revelado que quem é a favor da União Europeia perde eleições.

Ora, o primeiro-ministro Renzi propôs uma reforma institucional na Itália para limitar, vamos assim dizer, o poder do Senado. A Itália é um pais bicameral, tem Câmara dos Deputados e Senado e a proposta era basicamente que os senadores fossem eleitos pelas Câmaras de Deputados de cada estado, vamos assim dizer. Ou seja, não existiria mais eleição direta. E mais uma série de outras questões bastante complexas, porque isto tudo ia requerer a mudança da Constituição.

Ora, isso tem dois aspectos. Um aspecto é que se reduzem os espaços democráticos. Se são Câmaras de Deputados que que elegem os deputados, e que necessariamente devem ser deputados estaduais, há uma restrição à democracia.

E a União Europeia apoiava demais este tipo de restrição democrática. Aparte isto, existia ligada a essa questão uma série de leis eleitorais que também restringiam o poder do eleitor. Mais do que isso, a Constituição da Itália é uma Constituição muito amada. Porque ela nasceu em 1947, resultado da luta armada contra o nazifascismo de 1943 a 1945. É uma Constituição em que está escrito que a Itália se baseia no trabalho; é uma Constituição que se declara antifascista; é uma Constituição que repudia a guerra e tem uma série de outras questões. Uma bela Constituição.

Ora, o referendo abria a possibilidade de um desnaturamento total dessa Constituição. A votação foi 60% contra essas mudanças mas ela foi homogênea. Coisa que é muito estranha, foi homogênea praticamente em todo território. Coisa muito estranha para um pais dividido, extremamente dividido e fragmentado entre suas regiões. Isto levou a uma… não restou mais nada, a não ser o primeiro-ministro Renzi pedir demissão.

Mas à parte esses pequenos detalhes o dado fundamental é que as populações europeias têm medo do governo da União Europeia. E sempre que puderem votarão contra. Esse é um dado grave interessante. Porque o europeu nota que sua crise econômica já tem mais de dez anos, vamos dizer quinze, dezesseis anos de neoliberalismo desesperado e de vontade de guerra, nas zonas médio-orientais também nas zonas mediterrâneas da Líbia e os constantes ataques contra a política Russa… O enfraquecimento da Europa no plano internacional está levando a uma fragmentação política grande que leva inclusive a fragmentação até no plano territorial. É um momento grave para a Europa. Concretamente a Europa perde terreno, perde espaço, sobretudo, para a Rússia, a China e para a Ásia em geral.


*Ativista político. Italo-brasileiro nascido em Bragança Paulista, foi membro do PCB e fundador da ALN junto com Carlos Marighella. Exilado na Itália, criou em Milão o Archivio Storico del Movimento Operaio Brasilliano. Em 2006 elegeu-se senador na Itália pelo Partido da Refundação Comunista, representando a região da Lombardia.