4 informações sobre o aborto a que a sociedade precisa ter acesso

Após três juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) opinarem favoravelmente sobre a prática do aborto até o terceiro mês de gestação, uma polêmica invadiu a sociedade. Contrários ao método argumentam que, por motivos religiosos, o aborto fere os princípios cristãos, mas não compreendem que o Estado deveria ser laico e oferecer o amparo às mulheres que, em uma situação extrema, precisam interromper a gravidez.

Por Laís Gouveia 

4 questões sobre o aborto que a sociedade precisa ter acesso - Reprodução

O Portal Vermelho listou alguns mitos que se tornaram falsas verdades ao longo da história, na sociedade brasileira, a respeito do aborto. 

1 – Caso liberado, o aborto se tornaria uma prática corriqueira, como tomar uma pílula anticoncepcional

Em países como o Uruguai, onde a prática do aborto foi liberada, o número de mulheres que decidem seguir com a gestação cresceu 30% em 2014 se comparado ao ano anterior, conforme relatório anual do Ministério da Saúde (MSP). “Na legalização do aborto, também disseram o mesmo mas agora constatamos que a maioria da população respalda essa política, entendeu que serviu para salvar vidas, tanto das mulheres quanto das crianças”, disse Pepe Mujica, quando ainda presidia o Uruguai, ao jornal O Globo.

2 – “Dentro de mim houve uma fecundação, desta fecundação resultou um embrião que está se desenvolvendo, que há um coração batendo e uma vida fluindo”

Médicos e biólogos afirmam que o feto, até a 12ª semana de gestação, é portador de um sistema nervoso tão primitivo que não existe possibilidade de apresentar o mínimo resquício de atividade mental ou consciência. Para eles, abortamentos praticados até os três meses de gravidez deveriam ser autorizados, “pela mesma razão que as leis permitem a retirada do coração de um doador acidentado cujo cérebro se tornou incapaz de recuperar a consciência”, segundo diz um trecho de um artigo assinado por Drauzio Varella em seu site.

3 – “Com tantos métodos anticoncepcionais, por que as mulheres engravidam? Ninguém engravida por acidente, mas sim por irresponsabilidade”

Mulheres engravidam e continuarão abortando, mesmo com a existência ou não de métodos anticoncepcionais, isso é fato, mas o que chama a atenção aqui é questão da saúde pública e da mortalidade advinda do aborto. Segundo o estudo feito pela Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, no Brasil há entre 1 milhão a 1,5 milhão de abortos por ano, neste recorte a questão de classe é preponderante.

Com a proibição do aborto, uma pequena parcela das mulheres pode pagar por um aborto de R$ 5 mil em uma clínica salubre e luxuosa, enquanto o restante das mulheres, muitas vezes abandonadas pelo companheiro ou pela família, vai em locais sem a mínima condição de higiene, ou utilizando de métodos como agulha de crochê, remédios de tarja preta ou chás para a interrupção da gravidez. O resultado é o número crescente de pessoas que dão entrada no SUS com hemorragia. Muitas dessas mulheres morrem todos os dias.

4 – “Deus deve intervir na opinião dos parlamentares para a não regulamentação do aborto”

Teoricamente o Brasil é um Estado laico, não declara em nome de nenhuma religião, tolera, aceita todas, inclusive se fosse o caso da falta total de religião do povo. Mas o que vemos ultimamente é a completa contradição na postura dos representantes políticos do povo brasileiro, que, exercendo mandato da deputados e senadores, estão em Brasília em nome das suas igrejas, como por exemplo o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que tentou criar um projeto de lei que dificulta o aborto em casos de estupro.

O que a bancada religiosa esqueceu é que não é seu papel representar apenas os interesses de seus fiéis, mas sim de toda uma população brasileira que possui outras crenças, opiniões e posturas a respeito da interrupção da gravidez e sobre outros assuntos convergentes. Deus e espaços de poder são combinações venenosas para o presente e o futuro do Brasil.