BC reduz Selic a 13,75%; trabalhadores e empresários criticam timidez

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu nesta quarta (30) pela segunda vez seguida a taxa básica de juros (Selic), em 0,25% ponto percentual. A taxa, que estava em 14%, caiu para 13,75% ao ano. A decisão foi unânime e ocorreu no dia em que o IBGE divulgou que o Brasil aprofundou a recessão no terceiro trimestre de 2016. Diante do cenário, trabalhadores e empresários criticaram a timidez na queda da Selic. Mesmo com o corte, o país segue líder mundial de juros.

Manifestação de trabalhadores contra juros altos

De acordo com comunicado divulgado pelo BC após a reunião, “a inflação recente mostrou-se mais favorável que o esperado, em parte em decorrência de quedas de preços de alimentos, mas também com sinais de desinflação mais difundida”. Além disso, o Copom ressalta as dificuldades de recuperação econômica.

"O conjunto dos indicadores divulgados desde a última reunião do Copom sugere atividade econômica aquém do esperado no curto prazo, o que induziu reduções das projeções para o PIB em 2016 e 2017. A evidência disponível sinaliza que a retomada da atividade econômica pode ser mais demorada e gradual que a antecipada previamente", diz o comitê, em nota divulgada logo após o terminado da reunião.

Por outro lado, o Copom afirma ainda que o cenário externo ainda causa preocupação, ainda mais com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. "No âmbito externo, o cenário apresenta-se especialmente incerto. O aumento da volatilidade dos preços de ativos indica o possível fim do interregno benigno para economias emergentes. Há elevada probabilidade de retomada do processo de normalização das condições monetárias nos EUA no curto prazo e incertezas quanto ao rumo de sua política econômica".

Trabalhadores condenam conservadorismo

O presdiente da Central de Trabalhadores e Trabaljadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, avaliou que a iniciativa do Copom é insuficiente para destravar a economia, pois com a inflação em queda os juros reais ainda são os mais altos do mundo. "Não haverá alívio", disse.

"Os reais objetivos dessa gestão sem voto seguem na contramão das reais necessidades do país, dos interesses nacionais e da classe trabalhadora e contribuem para a estagnação da economia, que continua crescendo como rabo de cavalo, o avanço do desemprego e uma brutal transferência da renda nacional para um pequeno grupo de grandes rentistas", afirmou.

Segundo Araújo, o Brasil precisa crescer, mas a atual política monetária, em aliança com as políticas fiscal e cambial, tem sido o grande obstáculo à realização deste objetivo nacional. "Não é possível avançar no desenvolvimento do país e contemplar as demandas do nosso povo por mais saúde, educação e transporte de qualidade, nos marcos desta orientação", declarou.

Para a Força Sindical, a queda nos juros também foi "tímida" e o Copom perdeu ótima oportunidade de sinalizar ao setor produtivo que o país "não bajula mais os especuladores e o rentismo".

"O novo governo precisa entender que a taxa de juro em patamares estratosféricos tem sido uma ferramenta pouco eficaz no combate à inflação, pois, além de encarecer o crédito para o consumo e para investimentos, causa mais desemprego, queda de renda e piora o cenário de recessão da economia", diz a Força, em nota assinada pelo presidente da central e do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força.

"E o mercado de trabalho tem, em vez de abrir postos de trabalho, demitido vorazmente. Ao mesmo tempo, a indústria só tem piorado o seu desempenho", completou.

Também para a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), a medida é insuficiente e o BC precisa agir de forma "mais ousada", acelerando a redução da Selic. "A diminuição expressiva dos juros poderá colaborar para uma reativação mais acelerada da economia, dar fôlego para as empresas e para as famílias brasileiras, além de ajudar que milhões de desempregados consigam reencontrar o seu merecido espaço no mercado de trabalho", diz a centra, em nota, acrescentando que "juros altos interessam apenas aos banqueiros e ao rentismo".

Fiesp: BC sabota crescimento

O presidente da Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaff – um aliado do governo Michel Temer -, foi duro ao criticar o conservadorismo do BC. “É muita recessão para um corte pífio de Selic. Não há dúvida de que são necessários cortes mais agressivos da taxa de juros. Ao optar por cortes de 0,25 pontos percentuais, o Banco Central sabota a retomada de crescimento da economia, condenando-a à estagnação para os próximos anos e produzindo a ampliação no número de desempregados, que já passa de 12 milhões”, afirmou.

Num ranking formulado pela Infinity Asset Manegement e o site MoneYou, o Brasil continua líder de juros, entre os 40 países analisados. No cálculo que desconta dos juros nominais a inflação dos últimos 12 meses, o Brasil tem atualmente 5,45%.

É quase dois pontos percentuais a mais do que a segunda colocada: a Rússia, com 3,68% de juros reais. Em seguida vem a China, com 2,20%, e o México, com 2,12%, seguidos por Índia, (1,97%), Polônia (1,70%) e Malásia (1,58%). A média geral dos 40 países é negativa em -1,4%,
Na conta que considera a inflação projetada para os próximos 12 meses, a liderança brasileira é ainda maior: 8,53%, com a Rússia em segundo com 4,46%.