Milhares nas ruas de São Paulo contra a redução dos gastos sociais

A Frente Povo Sem Medo organizou na tarde deste domingo (27) um ato contra a PEC 55/241, proposta que congela os gastos dos governos nos próximos 20 anos, na Avenida Paulista, região central de São Paulo. A manifestação reuniu cerca de 40 mil pessoas, segundo os organizadores.

Manifestação em SP - Foto: José Eduardo Bernardes/ Brasil de Fato

Organizações, parlamentares e manifestantes presentes denunciaram que Temer não tem mais condições de governar o país. Para Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), “a PEC 55 vai destruir o Estado brasileiro, vai acabar com a capacidade de investimento social em saúde, educação e moradia. E é isso que eles querem fazer, querem deixar o Estado só para eles, para que eles possam ganhar tudo”, afirmou.

Segundo Carina Vitral, presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), é a juventude que está na linha de frente contra a PEC 55, resistindo também contra a Reforma do Ensino Médio. O motivo, ela analisa, “é porque agora é o povo brasileiro que está na universidade, naquela mesma sala de aula que era só dos ricos. Agora os filhos dos pobres querem garantir seu futuro. E o nosso futuro vai ser garantido nas ruas, com mobilizações, com as ocupações das escolas e universidades”.

Manifestação popular

O discurso unificado de quem estava na Avenida Paulista, inclusive entre as pessoas sem qualquer vinculação partidária, que compareceram em grande número, era a denúncia contra as reformas e medidas do governo ilegítimo de Michel Temer.

Segundo Rinaldo Batista Pereira, servidor do Judiciário, o ato tem um significado “muito grande”. “Apesar de não estar aqui todo o povo brasileiro, há pelo menos uma grande representação dele e só o povo que vai conseguir mudar a situação que estamos”, disse.

Já Lídia Pereira, também servidora pública e professora da Universidade Federal do ABC, a manifestação desse domingo dá ainda mais “esperança para as próximas lutas”. “Fala-se tanto em mudanças, mas se a gente não sair das nossas casas e sacrificar um domingo de sol como esse, essa mudança não vai acontecer. Os nossos deputados e senadores precisam ouvir, de fato, a voz das ruas, não apenas quando convém a eles”, apontou.

A francesa Eloise Morhange, que mora há 29 anos no Brasil, afirmou comparecer “em todas as manifestações (…) por não estar de acordo com esse governo que está no poder”.

“Eu não voto, porque eu sou francesa, mas a gente tem que estar na rua e mostrar que a gente não concorda com o que está acontecendo.”

Segundo Morhange, a onda conservadora que vem tomando diversos países ao redor do mundo exige atenção da população e dos progressistas. “Essa onda está no mundo inteiro como a gente está acompanhando no Brasil, nos Estados Unidos e na França futuramente nas eleições do ano que vem. Está todo mundo se radicalizando e virando extrema direita.”

A estudante Letícia Soares, de 17 anos, estava animada. “Acho que as pessoas estão começando a perceber que este governo foi montado para evitar a punição de corruptos. Em seis meses, seis ministros saíram por denúncias de falcatruas”, citando o mais novo escândalo do governo Temer, o pedido de demissão de Geddel Vieira Lima, secretário de Governo até o último dia 25.

Os manifestantes também fizeram um minuto de silêncio em homenagem a Fidel Castro, líder da revolução cubana, que morreu ontem (26), e logo em seguida gritaram “Viva Fidel”.

O cantor e compositor Chico César estava lá e, do alto do carro de som destacado para a atividade, fez um pequeno show para a multidão que esperava a saída do ato.


Governo insustentável

As recentes denúncias envolvendo o peemedebista Michel Temer e dois ex-ministros que se desligaram de seu governo, Geddel Vieira Lima, responsável pela articulação entre o Planalto e o Congresso, e Marcelo Callero, que estava à frente do Ministério da Cultura, também foram lembradas durante o ato.

O ex-ministro da Cultura revelou na última semana que Geddel Vieira Lima e Michel Temer tentaram coagi-lo a liberar uma obra embargada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) na Bahia. Geddel é proprietário de um dos apartamentos do empreendimento La Vue Ladeira da Barra, que não atende às especificações de conservação histórica dos prédios ao seu redor.

O deputado federal Ivan Valente (PSOL) anunciou que, na próxima segunda-feira (28), a bancada do Partido Socialismo e Liberdade dará entrada, na Câmara dos Deputados, com um processo de impeachment de Michel Temer. Segundo Ivan Valente, o processo acusará Temer “por crime de responsabilidade, por prevaricação do cargo, ameaça a um subordinado e quebra da honra e do decoro que o cargo exige”, disse o deputado.

Guilherme Boulos também destacou que não há mais condições para que Temer siga no cargo. “Desde o princípio é um governo ilegítimo, fruto de um golpe, que não recebeu voto de ninguém. Agora, além de ilegítimo, ele não tem condições de governar. Renuncia Temer”, gritou o líder do MTST.

 

 
Boulos lembrou ainda que os áudios que incriminam o presidente continuam ocultos. “Em outros tempos, a Polícia Federal foi muito rápida para sair soltando áudio ilegal na mídia. Cadê os áudios, Alexandre de Moraes? Tenho certeza que quando esses áudios aparecerem, esse governo não fica de pé nem uma semana”, afirmou, citando o ministro da Justiça do governo ilegítimo.

O senador Lindbergh Farias pontuou que as pessoas de verde e amarelo que ocuparam a Avenida Paulista contra a presidenta Dilma e “bateram panelas”, até agora não se pronunciaram sobre o “escândalo envolvendo Geddel e Michel Temer”.

“É de uma irresponsabilidade o que faz essa burguesia da Avenida Paulista. Diziam que era uma luta contra a corrupção e o que nós temos hoje é uma quadrilha no Palácio do Planalto. Agora eles querem fazer um golpe dentro do golpe. Tem gente querendo eleição indireta no Congresso Nacional. Esse Congresso não tem autoridade moral para eleger um presidente. Nós temos que levantar a bandeira das Diretas Já”, disse o senador.

Marcha para Brasília contra a PEC 55

O Congresso prevê a votação da proposta que congela os gastos do governo na terça-feira (29). As organizações, no entanto, adiantaram que está programada uma grande marcha na capital, Brasília, para pressionar os parlamentares a rejeitarem a PEC.

“Na terça vamos tomar as ruas de Brasília e de todo o Brasil para não deixar essa PEC passar”, disse o líder do MTST.

O senador Lindbergh Farias afirmou que “a marcha que vai calar aquele Congresso Nacional, que não tem qualquer autoridade moral”.

Segundo Ivan Valente, a marcha servirá “para dizer não à política econômica do Temer, não à PEC 55, não à reforma da Previdência, à Reforma Trabalhista, às privatizações e ao conjunto de medidas. Porque eles querem que o povo pague a conta da crise e nós não vamos pagar”, afirmou.