Bolívia: Sistema político norte-americano está doente, opina ministro

"É muito difícil entender o modelo de democracia dos Estados Unidos e precisamente contra esse modelo votaram seus eleitores, contra o desajuste entre a cidadania e o poder", afirmou o ministro da Presidência boliviano, Juan Ramón Quintana.

Entrevistado neste domingo (20) no programa de televisão Histórias a Quemarropa, do canal Bolívia TV, para analisar os recentes resultados eleitorais nos Estados Unidos onde triunfou Donald Trump, Quintana coincidiu com o destacado analista Noam Chomsky ao afirmar que o sistema político norte-americano está doente.

"Há um mal-estar do cidadão contra um modelo que usurpa a decisão do povo ao votar, ao cidadão lhe exige quase com uma pistola na nuca que pague seus impostos, mas esse cidadão é incapaz de votar por quem vai governar e sobre o que vai governar", comentou.

"O 1% que integra o Colégio Eleitoral nesse país decide sobre os 120 milhões de votantes, por tanto há um desajuste entre a cidadania e o poder", disse Quintana.

Um dos fatores mais perturbadores desse desajustado sistema, dimensionou, é a concentração da riqueza em um país onde, segundo Chomsky, 1 % controla mais de 50% das riquezas e 3% controla entre 60 e 65 %.

Esta votação, opinou, mostra uma mistura de fastio, cansaço, mas também de grande temor por mais do mesmo, a rejeição a votar pela cobiça, o enriquecimento de uns multimilionários graças aos famosos resgates que saem dos bolsos da população.

"É a perda de prestígio dos Estados Unidos frente às guerras pagas pelos contribuintes, à derrota, ao custo econômico, o medo de ver-se envolvidos nas guerras e a rejeição aos grandes negócios globais o que precipitou a derrota de Hillary Clinton", opinou Quintana.

"Como não vai estar desajustada a sociedade norte-americana se hoje tem 50 milhões de pobres", argumentou, "se tem 350 milhões de armas circulando livremente nas ruas, mais de 2 milhões e meio de cidadãos em cárceres administrados por empresas privadas".

"Há um desajuste das elites, que estão levando ao declive os Estados Unidos e, obviamente, há uma tendência muito forte a uma sorte de colapso", sublinhou.

"Estou seguro que com Hilary Clinton íamos ter mais guerras dos Estados Unidos frente ao mundo, e o mais seguro era que propiciasse um golpe de estado na Venezuela e que se acrescentassem os projetos de desestabilização contra a Bolívia e Equador".

"A situação dos Estados Unidos hoje é tremendamente complicada, em primeiro lugar desde a perspectiva econômica é o país que tem a maior dívida de todo mundo, o que mais deve a China, com uma dívida fiscal que supera seu Produto Interno Bruto", recalcou Quintana.