Confrontado com cheque de Temer, empreiteiro diz que se confundiu

O empreiteiro Otávio Marques de Azevedo, delator da Operação Lava Jato, que em setembro afirmou ter pago propina para a campanha de Dilma Rousseff em forma de doação, disse nesta quinta-feira (17), em novo depoimento, que se confundiu e não houve pagamento de propina, por parte da empresa, à chapa de Dilma Rousseff e Temer na campanha presidencial de 2014.

Por Dayane Santos

Cheque propina para temer - Reprodução

No entanto, Azevedo só lembrou que se confundiu depois que a defesa da presidenta Dilma apresentou a cópia do cheque assinado pela tesouraria de Temer. A prova desmontou a tese dos advogados do PSDB, que acionaram a Justiça Eleitoral para pedir a cassação da chapa por abuso de poder econômico, sob o argumento de que as doações de campanha foram oriundas de esquema de corrupção.

Seguindo o roteiro de criminalizar o PT e as forças progressistas, o empreiteiro da Andrade Gutierrez disse no primeiro depoimento que a “doação” seria fruto de pressão e parte de um acordo para que a construtora repassasse 1% de propina de cada contrato com o governo federal. Agora, tudo virou uma simples confusão?!

No entanto, como acusar alguém, neste caso, a campanha de uma candidata à Presidência da República, e depois dizer que foi apenas uma confusão?

Além disso, para delatar, Azevedo deve – ou pelo menos deveria – apresentar provas de suas acusações. Pelo jeito, foi somente o depoimento e a convicção dos investigadores que sustentaram a acusação, o que revela uma completa inversão do processo penal, em que o ônus da prova é do acusado e não de quem acusa.

Vale lembrar que, das 25 testemunhas que falaram até agora no processo, Otávio de Azevedo era o único que havia afirmando o pagamento de propina nas doações eleitorais, principal acusação do PSDB no processo. “Hoje, cai por terra toda e qualquer acusação de irregularidade na arrecadação de campanha”, disse o advogado de defesa de Dilma, Flávio Caetano.

A pergunta que fica diante do que Azevedo chamou de “confusão” é se ele também não se confundiu com as doações feitas ao PSDB. A construtora Andrade Gutierrez fez mais de 100 doações a candidatos, diretórios e comitês de campanhas eleitorais de 2014, totalizando R$ 83,8 milhões. A maior fatia foi para o PSDB, chegando a R$ 25,9 milhões, sendo que R$ 19 milhões foram para o comitê da campanha de Aécio Neves.

Não é de hoje que a Lava Jato dá demonstrações de seletividade e atua como tribunal de exceção. Apesar do esforço para dizer que não há seletividade, a retificação do depoimento do ex-presidente da Andrade Gutierrez reforça essa tese.