Trabalhadores protestam contra Trump e Nissan no Salão do Automóvel

Cento e cinquenta sindicalistas brasileiros vinculados às três maiores centrais sindicais brasileiras – CUT, UGT e Força Sindical – fizeram um protesto relâmpago contra a montadora Nissan durante a abertura do Salão do Automóvel de São Paulo ao público em solidariedade aos trabalhadores da fábrica do Mississipi.

Trabalhadores da Nissan protestam no Salão do Automóvel de São Paulo - Brasil 247

Com as mensagens “A Nissan joga sujo” impressas em camisetas pretas, e cartazes com a inscrição “Trump contra os Trabalhadores”, os brasileiros chamaram a atenção dos visitantes da feira para as práticas antissindicais da montadora, que intimida ilegalmente e ameaça seus trabalhadores e proíbe a sindicalização no estado mais pobre dos Estados Unidos, além de demonstrarem sua insatisfação com a eleição do novo presidente do país, o empresário Donald Trump.

O presidente da UGT, Ricardo Patah, entende que protestos são necessários para que a população tome consciências das práticas nocivas aos trabalhadores que são adotadas nos Estados Unidos. “Apoiamos os trabalhadores e participaremos de manifestações certos de que a repercussão levará a Nissan a rever suas práticas”.

Miguel Torres, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos CNTM/Força Sindical acrescenta: “Apesar de a Nissan manter o diálogo com os trabalhadores no Brasil, temos que lembrar que a classe trabalhadora é universal e somente juntos venceremos essa batalha”.

A Nissan, no Mississipi, mantém a política de intimidar os trabalhadores com ameaças de fechamento da fábrica sempre que o assunto da organização dos empregados em um sindicato ressurge. Ao agir dessa forma, a multinacional impede a liberdade de expressão e impossibilita que os trabalhadores reivindiquem melhores salários, segurança e saúde no ambiente de trabalho e se defendam em eventuais casos de assédio moral e sexual, além de controlarem o uso de horas-extras.

Outro receio dos sindicalistas brasileiros é que o modelo americano acabe sendo trazido para o Brasil. Paulo Cayres, Presidente Confederação Nacional dos Metalúrgicos CNM/CUT, diz que atos como o do Salão do Automóvel mostram que os trabalhadores podem se unir em torno de diversas lutas. “Hoje estamos aqui em São Paulo. Amanhã poderemos estar em Brasília lutando contra as mudanças na legislação trabalhista brasileira”.

Morris Mock, empregado na fábrica do Mississipi, enviou uma mensagem aos trabalhadores do Brasil. “Em nome dos trabalhadores na Nissan da planta de Canton, no Mississipi, agradeço a solidariedade dos sindicalistas brasileiros. Somente juntos, defenderemos os trabalhadores do mundo todo. A atitude dos trabalhadores brasileiros é um exemplo e uma inspiração para todos nós”.

Nissan no Mississipi

Os últimos dados disponíveis mostram que a planta da Nissan de Canton, no Mississipi, conta com 6 mil trabalhadores, dos quais cerca de 50% são terceirizados e temporários que trabalham exclusivamente para a empresa há muitos anos, mas recebem salários bem inferiores aos dos contratados diretamente.

A estimativa mais recente de produção da Nissan de Canton, em 2015, foi de 340 mil unidades. A unidade integra a Nissan North America, que é uma subsidiária direta da Nissan Motor Co. Nos primeiros seis meses do ano fiscal de 2015, a North America respondeu por 54% das vendas totais da empresa e 35% da produção mundial.

O que a Nissan desrespeita

1) O Código Básico da Iniciativa Ético Comercial, editado pela Ethical Trading Iniciative, define no item dois que a liberdade de associação e o direito a negociação coletiva devem ser respeitados. “Todos os empregados poderão, sem nenhuma distinção, unir-se ou constituir associações de classe e participar de negociações coletivas. A empregadora adotará uma atitude aberta em relação às atividades de associações de classe e sua organização”, relata o documento.

2) O endosso dado pelos Estados Unidos às Diretrizes para Empresas Multinacionais, conjunto de regras adotado pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

3) O direito a se organizar é um dos direitos humanos universalmente reconhecidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e está expresso na Convenção Nº 87.