Guadalupe Carniel: Uma imagem que vale por mil palavras

A seleção uruguaia está treinando para jogos das eliminatórias, mas com uma novidade: a partir de agora com camisas lisas, que segundo a federação local (AUF) foram entregues pela Puma. E como se não bastasse aqueles banners de publicidade não estão mais nas coletivas, como foi no caso das entrevistas de Diego Godín e Álvaro González.

Por Guadalupe Carniel

Uruguai futebol

E isso está virando uma novela e já está rolando pela justiça. Segundo comunicado dos jogadores sua imagem está sendo explorada de forma ilegal. Já a AUF alega que a federação não tem ligação com isso.

A história dos direitos de imagem já vem se arrastando no lado oriental do Plata. Há 30 anos houve uma assembleia representativa para que a Mutual Uruguaya de Futebolistas Profesionales fosse dona dos direitos de imagem. Como naquela época ninguém ligava muito para esse assunto, a coisa parou por ali.

Onze anos depois fecharam um acordo com a Tenfield é uma empresa que se tornou intermediária entre a Mutual e a AUF. Em 1998, a Tenfield quis dar um passo maior: ser dona direta dos direitos de imagem dos jogadores. A Mutual entrou na jogada para não sair perdendo e conseguiu fazer um acordo de US$ 300 mil por ano, com a alegação de que os jogadores associados tivessem serviços como clínica médica, fisioterapia e até complexo esportivo para jogadores sem clube. E assim foi se arrastando ao longo dos anos, com esse contrato entre AUF, Mutual e Tenfield sendo renovado.

Os jogadores se recusam a usar produtos vinculados a sua imagem e de acordo com a justiça, eles estão certos. A Mutual assumiu que estava cometendo um erro e esse contrato que duraria até 2019 legalmente não tem valor, já que pela lei sem consentimento da pessoa expresso não tem valor e que não pode ser feito por meio de assembleias representativas. E tem mais: a Mutual assumiu que nunca nenhum atleta foi consultado sobre isso.

Os jogadores tentam resolver essa questão há alguns anos com a Tenfield. Em cada data Fifa a seleção recebe US$ 4 mil para ser dividido entre o plantel. Mas nos últimos anos Godín e Lugano se negaram a receber por entenderem que nunca cederam sua imagem.

Ou seja, todos os produtos usados para venda de artigos celeste não podem circular por aí sem autorização prévia do jogador. Vender uma camisa com um ídolo como Suarez é uma coisa. Sem ele é outra totalmente desvantajosa.

A Tenfield segue tentando se segurar como possível, afinal quer manter o contrato e está preocupada, já que queriam que a empresa fornecedora de produtos fosse a Nike.

Se há 30 anos eu dissesse que uma empresa mandaria numa seleção, que é o que acontece bastante, principalmente aqui na América do Sul, seria dada como louca. Mas agora as federações são engolidas desenfreadamente por grandes empresários. O futebol ainda é um esporte e deveria ser, não apenas um negócio. E é louvável ver que jogadores se posicionem quanto a isso. Claro, há o interesse financeiro. Mas o fato de eles se mobilizarem para lutar por seus direitos é ótimo. Afinal, quem nunca se inspirou num jogador? E por que não se espelhar neles para lutarmos pelos nossos direitos?