Fuser: Trump trará tempos difíceis, mas seremos capazes de resistir

Em texto publicado no Facebook, o professor de Relações Internacionais da UFABC Igor Fuser avalia o resultado das eleições norte-americanas. Classificando Donald Trump como “o imperialismo nu, descarado, sem disfarces”, ele crê que o republicano não conseguirá pôr em prática seu discurso. Para Fuser, a vitória do controverso político pode “empoderar” reacionários mundo afora. Mas, apesar de prever tempos duros pela frente, ele defende que a esquerda é capaz de sobreviver, resistir e vencer.

Donald Trump, em evento da campanha nesta quinta-feira na Flórida - Joe Raedle

Na publicação, o professor ressalta o caráter racista, machista e homofóbico do presidente eleito e lembra que Trump prometeu construir um muro na fronteira com o México e ainda mandar a conta para os mexicanos pagarem.

Fuser compara o discurso do republicano – “uma mistura de Bolsonaro e Sílvio Santos” – àquele utilizado por setores de direita do Brasil. “Manipulou em seu favor todo o tipo de preconceito, ignorância, egoísmo, fanatismo religioso, e o ultraliberalismo tosco dos que demonizam o Estado na crença de um ‘livre-mercado’ genocida”, escreve.

Ele ressalta, contudo, que a alternativa a Trump não era muito melhor. Para ele, Hillary Clinton era a “candidata dos 1%, dos ricaços de Wall Street, dos guerreiros de sofá que financiam a direita golpista na Venezuela e agora ameaçam a Rússia porque se recusa a rezar pela cartilha da Casa Branca”.

O professor projeta ainda que Trump deverá se recompor com o “esquemão” que até ontem desafiava. “Talvez isso segure a derrocada na bolsas por algum tempo. Mas nada vai ficar igual”, aponta. “Os empregos perdidos não vão voltar, as famílias (milhões delas) desesperadas porque não conseguem pagar as dívidas para custear as universidades caríssimas dos seus filhos não terão alívio, os pobres continuarão a ser despejados das suas casas, e Trump vai jogar no lixo, rapidinho, todas as suas promessas de reverter a globalização devoradora de empregos”.

Na avaliação de Fuser, a “decadência da América vai continuar”, em ritmo ainda mais acelerado. Para ele, o resultado do pleito dos Estados Unidos pode levar a que reacionários de todo o mundo se sintam mais à vontade, mais “assanhados”, para agredir as forças progressistas, “como fizeram no sábado com a invasão policial à Escola Nacional Florestan Fernandes”.

Ele, contudo, prevê que será possível superar os tempos difíceis que se avizinham. “A extrema-direita grita, faz caretas, e até consegue ganhar eleições. Mas seu projeto é raso, inconsistente, inviável. Não tem resposta para a crise do capitalismo, nem, muito menos, para as angústias da humanidade que os fascistas têm conseguido, até agora, manipular em seu proveito”.

Segundo Fuser, lutas maiores virão, e o projeto da esquerda, anticapitalista, emancipador, solidário, inclusivo, ecológico, democrático, humanista e socialista se afirmará como única alternativa viável.

“A mesma eleição gringa que trouxe Trump revelou também Bernie Sanders como um arauto da esperança. Minha certeza é de que somos, sim, capazes de sobreviver, resistir e vencer”, encerra.