Três lições do sucesso da educação de Cuba para outros países

Cuba leva muito a sério o tema da educação. Se transformou em uma prioridade depois que Fidel Castro se tornou presidente em 1959. A educação ajudou o país a se livrar da qualificação que haviam lhe imposto de território mais desigual do Caribe durante os períodos coloniais e pós-coloniais no início do século 20.

Por Clive Kronenberg

Educação em Cuba - Roberto Suárez / Juventud Rebelde

As bases de uma nova ordem social – e socialista – de Castro se fundamentavam na ideia de que só uma educação de qualidade poderia acabar com a grave situação de pobreza, ignorância e subdesenvolvimento que sofria seu país.

Cuba investiu muito dinheiro para conseguir que seu sistema educativo fosse de qualidade. Durante as décadas de 1980 e 1990 a relação entre os gastos em educação e o produto interno bruto estava entre as mais altas do mundo.

Cuba tem muito a ensinar à África sobre o que priorizar e reformar no sistema educativo. Seu ênfase em Educação tem contribuído para a mudança social. É possível tirar lições valiosas desta experiências que poderiam ser útil a outros continentes e, como tenho demonstrado em meus estudos, particularmente na África do Sul.

Depois que o governo socialista de Castro chegou ao poder, Cuba revolucionou o ensino através de três métodos:

1 – Alfabetização

Em 1961 foi lançada a Campanha de Alfabetização que assentou as bases da importância da educação para uma sociedade em conflito e transição. No período de um ano a atenção foi concentrada em um milhão de analfabetos e 250 mil professores foram mobilizados e milhares de escolas.

No final de 1961, 75% deste um milhão de pessoas havia conquistado um nível de alfabetização básico. Foram realizados em seguida métodos meticulosos para alfabetizar a população adulta.

2 – O acesso universal

Enquanto a campanha de alfabetização seguia seu curso, o índice de matriculas nos colégios aumentava consideravelmente (e se multiplicou por dois uma década depois).

O governo apresentou programas para as crianças que viviam no campo, as trabalhadoras do lar, as prostitutas e para aqueles que haviam abandonado o colégio antes de se graduar. Estes programas, junto com a recém fundada Organização de Creches, tinham o objetivo de assegurar que a educação fosse acessível a todos. Estas medidas também se centraram nas pessoas que viviam em zonas rurais distantes ou de difícil acesso.

O trabalho duro de Cuba deu seus frutos. Desde meados da década de 90 o índice de admissão escolar se mantém em 99% tanto para meninos como para meninas, em comparação aos 87% do resto da região latino-americana. Ainda nos 90, 94% chegavam até a 5º série do primário, em contraponto aos 74% que atingiam o mesmo nível no restante do continente. Os índices de matrícula nas escolas do ensino médio variavam de 78% entre os meninos e 82% entre as meninas, enquanto nos demais países estes índices eram de 47% e 51% respectivamente.

3 – A importância dos professores

Cuba sabe o quão importante são os bons professores. Durante uma extensa investigação, descobri que as instituições de ensino para professores utilizam, quando possível, os métodos e estratégias mais avançados que existem. Para ser professor em Cuba é necessário ser inteligente, ter um bom caráter, estar disposto a contribuir para o desenvolvimento social e ter boa forma de lidar com as crianças.

No começo do século, Cuba se gabava de ser o país com mais professores per capita do mundo: um a cada 42 estudantes. Na Conferência Internacional de Pedagogia que estive em Havana no ano de 2015 foi revelado que, este ano, a proporção de estudantes e professores era de um professor para cada 12 alunos.

A educação para a mudança social

Os métodos que Cuba utiliza são respeitados e implementados para além de suas fronteiras. Até 2010, seu método de alfabetização havia sido adotado em 28 países da América Altina, Caribe, África, Europa e Oceania. Este método tem ajudado a formar milhões de pessoas analfabetas.

Graças ao contato que tenho mantido com os responsáveis pela educação cubana durante minhas viagens de investigação, descobri que Cuba quer que o restante dos países que estão passando por dificuldades aprendam com sua experiência. Pensam que é lamentável que quase 800 milhões de pessoas – dois terços delas mulheres – sejam analfabetas. Também é imperdoável que quase 70 milhões de crianças não tenham acesso à educação báscia.

Tanto os cubanos simples como os de altos cargos do governo defendem ser necessário ajudar a desenvolver a mente das pessoas para que elas possam contribuir com um mundo livre de medos, ignorâncias e enfermidades. No fim das contas, a educação empodera os seres humanos e lhes dá a oportunidade de se converter em buscadores e guardiões do progresso e da paz.

O firme compromisso do governo cubano com respeito à educação é inegável. A relativamente modesta situação econômica da ilha faz que os triunfos educacionais sejam, todavia, mais surpreendentes. Isto estabelece a base objetiva para um estudo mais profundo de seus métodos, especialmente por parte de países em dificuldades.

Ao fim e ao cabo, as conquistas de Cuba não são frutos de milagres ou coincidências. São o resultado de anos de esforço, trabalho e sacrifícios e de cumprir compromissos cruciais com métodos muito eficazes.