Eleição nos EUA: ameaças de Trump a Hillary no final da campanha

Controvérsias em eleições presidenciais nos Estados Unidos não são incomuns e decorrem principalmente do atraso de confuso sistema eleitoral lá adotado, onde o voto popular elege um colégio eleitoral que indica indiretamente o presidente da República.

Por José Carlos Ruy  

Donald Trump

A fonte da controvérsia é o fato de que nem sempre os delegados ao colégio eleitoral são obrigados a votar no mesmo candidato presidencial preferido por seus eleitores.

 
Esta disparidade surgiu, recentemente – e de maneira aguda – na eleição de 2000, vencida pelo republicano George W. Bush, que teve uma estreita maioria no colégio eleitoral (271 votos, contra 266 dados ao democrata Al Gore), embora no voto popular ele tenha ficado atrás (teve 50.460.110 votos, menos que os 51.003.926 recebidos por Al Gore).
 
Em 2016, quase duas décadas depois, a confusão parece subir de tom e as manifestações feitas na campanha eleitoral assumem cada vez mais traços próprios do comportamento da direita nas eleições brasileiras.
 
Este ano a disputa presidencial nos EUA começou com uma novidade surpreendente – Bernie Sanders, que se declarou “socialista” e defendia medidas democráticas em benefício de todos.
 
Mas a disputa ficou mesmo entre uma candidata “neoliberal”, a democrata Hillary Clinton, e outro ainda mais à direita, o magnata Donald Trump, republicano. Ele tem sido visto como um falastrão, mas sua vitória poderá representar uma grave ameaça à democracia nos EUA e pelo mundo afora.
 
Esta ameaça se apresenta com força na campanha eleitoral cujo tom cresce à medida em que se aproxima a hora de votar.
 
Trump é candidato dos muito ricos, e até aí nenhuma novidade: é semelhante a Hillary Clinton. A diferença se acentua quando, em suas declarações, Trump tenta aproximar-se do povo americano empobrecido pela globalização neoliberal. Ele se apresenta como “nacionalista”, isolacionista, como preocupado com os problemas vividos pelos americanos comuns – sobretudo pela franja pobre formada por cidadãos brancos que foram jogados à margem do sistema produtivo e na pobreza em conseqüência das políticas de globalização neoliberal postas em prática desde o início dos anos 1980. 
 
E este é o grande perigo que Trump representa para a democracia: suas declarações e a maneira como diz que vai governar caso vença a eleição, tem um tom fortemente fascista e xenófobo.
 
Sua propaganda tem usado recursos fortemente xenófobos e misóginos, na tentativa de desqualificar Hillary Clinton. A conseqüência tem sido a troca de acusações entre os candidatos, de abusos sexuais. Trump é acusado por várias mulheres de assédio sexual; ele não deixa por menos e freqüentemente se refere ao adultério praticado pelo marido de Hillary, Bill Clinton, quando foi presidente da República. Além disso, Trump tem afirmado que Hillary teria sido ajudada pela espionagem russa em emails de empresas e cidadãos norte-americanos, na época em que ela foi secretária de Estado. Este é um fantasma que remete a temores antigos, da época da guerra fria, quando a Rússia (a então URSS) era vista como a grande inimiga dos EUA.
 
A propaganda eleitoral chega à sua reta final embalada por estes escândalos. E – neste ponto Trump parece sem igualar ao tucano Aécio Neves – e ameaça paralisar o governo caso a vitoriosa seja Hillary Clinton, que seria inclusive submetida a um processo de impeachment.
 
Os argumentos que Trump e alguns de seus apoiadores mais importantes tem usado estão entre “os mais absurdos” qualificou (quinta-feira, dia 3) o influente The New York Times. O que " eles estão dizem é que a sra. Clinton não poderá governar, porque não vamos deixá-la. Não perca seu voto, vote em nós”. 
 
Donald Trump e sua turma recorrem, diz o jornal, “a uma tática particularmente bizarra e perigosa nos últimos dias da campanha. Advertem que podem muito bem tentar o impeachment contra Hillary Clinton se ela vencer a eleição, ou, ao menos, paralisar seu governo com investigações intermináveis”. 
 
O próprio Trump puxou a faca; em um discurso pronunciado em Miami, disse que, se Hillary vencer, “o trabalho do governo seria interrompido” por ações de seus partidários no Congresso. Haverá, ameaçou, uma "crise constitucional sem precedentes e prolongada".
 
“Tudo isso mesmo se ela for eleita pela maioria dos eleitores americanos”, lamentou o
 
Rudy Giuliani, republicano, ex-prefeito de Nova York e importante aliado de Trump, reforçou a ameaça em um discurso pronunciado em Iowa: se Hillary vencer, "garanto que em um ano ela será acusada e acusada."
 
Isto é, a tática tucana de golpe parlamentar parece fazer escola e, agora, teria ganho a adesão da Trumplandia, como o The New York Times apelidou a extrema-direita que se reuniu em torno do candidato republicano. É um problema interno dos EUA, é certo. Mas sua solução afetará a parte do planeta que vive sob a influência e o tacão do imperialismo norte-americano.