Temer e tucanos já não se bicam, mas mantêm casamento de aparências

Os bastidores do governo golpista demonstram que o racha não é apenas uma fissura. Enquanto tucanos lançam a candidatura de Fernando Henrique Cardozo como presidente eleito indiretamente, rifando de vez Michel Temer (PMDB), a cúpula do governo atua para costurar a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a Presidência da Câmara dos Deputados para desbancar o candidato do PSDB.

Aecio Neves Michel Temer

Segundo fontes citadas pelo jornal Valor Econômico, Temer atua pela reeleição de Maia, por acreditar que seria uma forma de enfraquecer a liderança dos tucanos no chamado Centrão, base aliada que ajudou no golpe (PSDB, DEM, PSB e PPS). A preocupação é que a candidatura do PSDB vá antecipar o distanciamento dos tucanos da base aliada e, por consequência, a afundar de vez o seu governo.

No entanto, as mesmas fontes afirmam que o próprio PSDB já deu sinais de que o afastamento é inevitável, já que o objetivo dos tucanos é o poder, pavimentando o caminho para ocupar o Planalto em 2018. Por isso, o líder do PSDB, Antonio Imbassahy, já é pré-candidato à Presidência da Câmara.

Enquanto isso, correndo por fora, o PSDB reafirma que decidiu se descolar de Temer com o artigo de Xico Graziano, um dos principais assessores de FHC, publicado nesta quinta-feira (3), que lança o nome do ex-presidente tucano para assumir o poder, pela via indireta.

FHC, por sua vez, negou tal pretensão, mas ele também afirma que o governo Temer não vai se sustentar. Ele rifou Temer ao comparar o seu governo a uma “pinguela”.

“Defino o governo atual como uma pinguela, que é algo precário e pequeno, mas, se ela quebrar, você cai no rio e é melhor ir para o outro lado. O outro lado é a eleição de 2018”, disse FHC.

Assim como fizeram com o ex-presidente da Câmara, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os tucanos demonstram que a cúpula do PMDB foi útil para dar o golpe contra o governo da presidenta Dilma. Agora, que Temer só conseguiu aprofundar a recessão e o desemprego, e aumentar ainda mais as contas públicas, os tucanos o descartam e seguem o plano.

Sabendo disso, Temer também se movimenta para tentar estancar a crise. Recebeu em audiência, no Planalto, outro postulante ao cargo de presidente da Câmara, o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO). A ele teria garantido que o governo não se intrometeria na disputa. Até agora, Jovair e o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), este último ligado a Eduardo Cunha, são pré-candidatos. Eles repudiam a possível candidatura de Maia.

“Isso não é possível. Teria que mudar a Constituição. Ele quer fazer um atalho. O nome disso é casuísmo. Não cabe nos dias atuais”, declarou Jovair.