Bloqueio à Cuba: Obama poderia fazer mais

A Assembleia Geral da ONU exigiu pela vigésima quinta ocasião consecutiva, desde 1992, o fim do bloqueio contra Cuba, mediante uma resolução apoiada por 191 países e ante a qual Estados Unidos se absteve pela primeira vez.

contra bloqueio a cuba, outdoor - Reprodução

Em uma sessão plenária nesta quarta-feira (26), o principal órgão deliberativo das Nações Unidas, o único que acolhe em igualdade de condições os 193 Estados membros da organização, reivindicou mais uma vez a suspensão do cerco econômico, comercial e financeiro vigente durante mais de meio século.

A iniciativa adotada aqui apela para o respeito aos princípios e propósitos da Carta da ONU, documento de fundação que defende a solução pacífica de controvérsias, a amizade e a cooperação entre os países, a não ingerência nos assuntos internos e o respeito à soberania.

Intervenções dos cinco continentes recordaram a Washington que com seu bloqueio unilateral e extraterritorial, ignora esses critérios que levaram ao nascimento das Nações Unidas depois da sangrenta Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A propósito da mudança de posição estadunidense, o chanceler da ilha, Bruno Rodríguez, ressaltou na Assembleia que o Presidente dos Estados Unidos possui amplas prerrogativas executivas que não tem empregado, como ainda poderia, para reduzir substancialmente o impacto humanitário e econômico do bloqueio.

"Esta mudança de voto significa que as utilizará com determinação?", perguntou.

Rodríguez chamou o mundo a julgar não pelas palavras, mas pelos atos, e estes demonstram a vigência das sanções, o recrudescimento da perseguição financeira e o obstáculo ao desenvolvimento da ilha, justamente quando a comunidade internacional impulsiona a Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável.

O chanceler da maior das Antilhas denunciou a continuidade das sanções econômicas, comerciais e financeiras, apesar dos progressos nas relações bilaterais.

"Sem dúvida, registraram-se avanços no diálogo e na cooperação em temas de interesse comum e foram assinados vários acordos que registram benefícios recíprocos (…) No entanto, o bloqueio persiste, provoca danos ao povo cubano e obstaculiza o desenvolvimento econômico do país", sublinhou.

Além disso, precisou que por seu marcado caráter extraterritorial, também afeta diretamente a todos os Estados membros das Nações Unidas.

De acordo com Rodríguez, são incalculáveis os danos humanos produzidos pelo cerco, que afeta cada família e setor do país caribenho, incluindo áreas sensíveis como a saúde humana, a educação e a alimentação.

Em relação às ações executivas decretadas pelo presidente Barack Obama para modificá-lo, reconheceu-as, e enfatizou que constituem passos positivos, mas de efeito e alcance muito limitado.

A maioria das regulamentações executivas e as leis que estabelecem o bloqueio permanecem vigentes e são aplicadas com rigor até este minuto pelas agências do governo estadunidense, afirmou o funcionário, que reiterou as amplas faculdades de Obama para neutralizar seus impactos e propiciar um melhor cenário para a aproximação comercial.

A jornada de votação contra o bloqueio teve ainda em seu encerramento, em Nova Iorque, a presença de um grupo de estadunidenses solidários a Cuba em frente à sede da ONU, onde levaram bandeiras da ilha e cartazes de 'Stop the US blockade of Cuba' (Pare o bloqueio dos EUA a Cuba) e 'US hands off Cuba' (EUA, mãos fora de Cuba).

"Estamos aqui representando a comunidade norte-americana que defende o fim de um castigo responsável por tanta dor, e também para nos unir ao mundo, porque 191 países apoiaram a resolução da Assembleia Geral, com duas abstenções, algo histórico", declarou o ativista Benjamin Ramos.

Segundo um dos coordenadores do Projeto de Solidariedade a Cuba em Nova Iorque, não pode ser ignorada a rejeição universal às sanções econômicas, comerciais e financeiras vigentes por mais de meio século.

Outra das ativistas estadunidenses presentes na manifestação em frente à ONU, Kathe Carlson, assegurou que no país do norte há muitas pessoas contrárias à política hostil da Casa Branca para a ilha.

"Estamos aqui para apoiar a soberania de Cuba sem a ingerência norte-americana, uma luta na qual nos empenhamos há vários anos", disse.

Para Carlson, as mudanças na política de Washington para o país caribenho, realizadas pelo presidente Barack Obama, e a abstenção na ONU, servem de estímulo para continuar exigindo o fim de um bloqueio que qualificou de injusto, ilegal e imoral.

"Este voto de abstenção não é o que queremos, mas é um avanço e uma maneira de continuar esta luta", expôs.